"EUR é Rússia?"
A pergunta veio em um grupo de colegas no WhatsApp, durante o sorteio dos grupos da Copa do Mundo do Qatar, na sexta-feira (1º).
Colegas não necessariamente afeitos a futebol, e que atuam nas mais diversas profissões, mas interessados no tema devido a um acontecimento específico que, essencial para chamar a atenção, envolvia a seleção brasileira.
No Grupo B, lá estava o tal EUR, exibido em imagem na TV, abaixo das siglas em inglês de Inglaterra (ENG), Irã (IRN) e Estados Unidos (USA).
OK, talvez o IRN fosse difícil de identificar para quem não tem familiaridade com as abreviaturas das nações, mas e esse EUR, estranhíssimo, o que seria?
Mais: o que seriam o ICP1, presente no Grupo D, que tinha a França (FRA), atual campeão do mundo, como cabeça de chave, e o ICP2, no Grupo E, junto com as poderosas Espanha (ESP) e Alemanha (GER), além do Japão (JPN)?
EUR não era a Rússia, até porque, devido à guerra na Ucrânia, a seleção russa foi, como punição, retirada da disputa esportiva pela Fifa, a entidade máxima do futebol e a dona da Copa do Mundo.
EUR era o local reservado nessa chave para um representante da Europa.
E os tais ICPs? Eles significam "Intercontinental Playoffs", disputas intercontinentais. São dois ICPs, daí o ICP1 e o ICP2.
Essas siglas, que não exibiam as abreviaturas de países, significavam que havia, e ainda há, seleções indefinidas para o Mundial no Qatar.
O sorteio da Fifa foi incompleto, deixou buracos. Três dos grupos só terão todos os integrantes conhecidos em junho.
Por que isso?
Em relação à definição da seleção europeia, por causa da guerra. Devido ao conflito, que se estende por 41 dias, a Ucrânia não pôde enfrentar a Escócia em jogo no mês passado pela repescagem.
O ganhador desse confronto, remarcado para junho, ainda enfrentará o País de Gales, dias depois, e o ganhador irá ao Qatar.
Caso a guerra não arrefeça até o dia de Escócia x Ucrânia, o mais provável é que os ucranianos tenham de dar adeus à disputa, e escoceses e galeses farão o duelo britânico para definir quem estará no grupo da britânica Inglaterra.
No caso dos dois playoffs intercontinentais, que faz algum tempo definem as últimas vagas para o Mundial, eles serão realizados tardiamente porque a pandemia de Covid provocou problemas constantes no calendário, com eliminatórias continentais tendo de adiar partidas.
O maior atraso está na Ásia, que ainda não conseguiu definir a equipe que duelará com o representante da América do Sul.
Assim, no ICP1, Austrália (que apesar de estar geograficamente na Oceania participa das eliminatórias asiáticas) ou Emirados Árabes Unidos jogarão, e quem passar encara o Peru. Tudo em junho.
O ICP2 reunirá uma seleção da Concacaf (América do Norte, Central e Caribe), a Costa Rica, e uma da Oceania, a Nova Zelândia. Quando? Em junho.
Por que em junho, não antes?
Porque até lá não há datas para as seleções reunirem seus jogadores, espalhados pelo mundo para atuarem por seus clubes nos campeonatos e ligas nacionais.
Com todas essas indefinições, a lógica indicava que, não tendo a identificação de todos os países para o sorteio da Copa, que esse mesmo sorteio fosse postergado.
Fiz esse questionamento à Fifa, e uma porta-voz informou que isso não era possível devido à logística do negócio. Mencionou, para exemplificar, a questão da escolha dos campos de treinamento dos participantes da Copa.
Não sou entendido em logística, mas será que quatro meses (de meados de junho a meados de outubro), em um mundo informatizado, são insuficientes para definir o necessário (viagens, hospedagem, centros de treinamento)? O Mundial começa só no dia 21 de novembro.
Fato é que, nesse cenário, o sorteio acabou com lacunas indesejáveis, depois de incluir uma "sopa de letrinhas" (EUR, ICP1, ICP2) que deixou espectadores e leitores com dificuldade, momentânea ou duradoura, de entendimento.
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