Algoz da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2018, na Rússia, a Bélgica, quem diria, jogará sua partida final no Grupo F correndo risco altíssimo de eliminação na Copa do Mundo de 2022, no Qatar.
Tem 3 pontos em dois jogos, somados na vitória na estreia, diante do Canadá, e nada mais, já que perdeu do Marrocos (4 pontos) no segundo.
A quarta seleção desse grupo é a Croácia (4 pontos), atual vice-campeã mundial, que vem de goleada de 4 a 1 sobre os canadenses (0 ponto).
O leitor atento dirá que "risco altíssimo" é exagero, que basta à Bélgica, cuja seleção é apelidada de Diabos Vermelhos, ganhar dos croatas e pronto, está classificada para as oitavas de final.
A matemática está correta. Só que e para ganhar? O futebol apresentado pelos belgas no Mundial qatariano é dos piores vistos até agora. Talvez supere o dos anfitriões e se iguale ao de galeses e uruguaios, de qualidade deplorável.
Só que, na comparação com as seleções citadas, a belga desembarcou no Oriente Médio com o favoritismo nas alturas, listada na segunda colocação do ranking da Fifa, atrás apenas do Brasil.
Cabeça de chave do grupo, esperava-se que passasse com folga por Canadá e Marrocos e chegasse ao jogo derradeiro, o desta quinta (1º), às 12h (de Brasília), contra a Croácia, para disputar a primeira posição, e não com a obrigatoriedade de vencer.
O empate, diga-se, pode até servir, desde que o Canadá, eliminado e com quase nenhuma motivação (a não ser a de ser um jogo de Copa do Mundo, que pode ser um fator animador), goleie o Marrocos, em resultado muitíssimo improvável.
O maior problema para a Bélgica é mesmo o futebolzinho, que a deixa na berlinda ("em evidência embaraçosa, por motivo não lisonjeiro", conforme o dicionário Houaiss).
Levou sufoco do Canadá durante quase toda a partida, sendo que a meta de Courtois foi bombardeada com 22 finalizações –a sorte é que a mira dos canadenses estava descalibrada. Só achou um gol, de Batshuayi, oriundo de um chutão da defesa que pegou a defesa rival desatenta.
O time de Roberto Martínez, técnico espanhol que deu um banho tático em Tite nas quartas de final da Copa russa, esteve igualmente inoperante diante do Marrocos.
Meu entendimento é que as individualidades estão tão capengas que não há acerto coletivo que resolva.
Eden Hazard, o capitão, é um resquício, técnica e fisicamente, do jogador veloz, habilidoso e incisivo de quatro anos atrás.
De Bruyne, craque do Manchester City, rei das assistências, excelente finalizador, esteve sonolento em campo, pareceu atuar em câmera lenta.
A dupla de zaga, Alderweireld, 33, e Vertonghen, 35, que já não era uma maravilha com menos anos nas costas, assusta pela falta de mobilidade.
Até Courtois, o melhor goleiro do mundo –que fechou o gol naquele fatídico, para o Brasil, duelo em Kazan–, contribuiu para complicar a situação, falhando no primeiro gol marroquino. Em chute de bola parada da ponta esquerda, sem ângulo e sem muita força, ele saltou para dentro do gol, ridiculamente.
Para completar o cenário de terra arrasada, o forte e temido centroavante Lukaku, maior artilheiro da história da seleção belga, chegou à Copa "baleado", não totalmente recuperado de uma lesão na coxa. Ficou fora contra o Canadá e só entrou diante do Marrocos aos 36min do segundo tempo, para nada fazer.
Está tudo tão desencaixado que é irracional pensar que a Bélgica tenha condição de derrotar uma Croácia embalada por uma goleada e com seu craque, o capitão Modric, ainda jogando o fino aos 37 anos, com fôlego de um garoto e vontade de sobra.
E é o irracional que pode salvar a Bélgica, pois a irracionalidade acomete o futebol quando menos se espera.
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