O Mundo É uma Bola

O Mundo É uma Bola - Luís Curro
Luís Curro

Infrequente, esquema com três zagueiros triunfa na Champions League

Tanto o favorito Manchester City como a Inter de Milão, finalistas do principal interclubes europeu, atuam nesse sistema

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Quase 21 anos atrás, no dia 30 de junho de 2002, em Yokohama, no Japão, Brasil e Alemanha entravam em campo para decidir a Copa do Mundo.

Os brasileiros, sob o comando de Luiz Felipe Scolari, tinham um trio de zagueiros: Lúcio, Edmílson e Roque Júnior. Treinados por Rudi Völler, os alemães também atuaram com três beques: Linke, Ramelow e Metzelder.

Essa foi a única vez neste século que a final de uma competição de primeiríssima linha e badalada em todo o planeta (Copa do Mundo, Copa América e Eurocopa, no caso de seleções, e Champions League e Libertadores, no caso de clubes), contou com os dois rivais jogando dessa forma.

Seleção brasileira posa para foto em Ulsan (Coreia do Sul) antes de jogo contra a Turquia na Copa de 2002
Seleção brasileira posa para foto em Ulsan (Coreia do Sul) antes de jogo contra a Turquia na Copa de 2002; time atuava com três zagueiros: Roque Júnior (4), Edmílson (5) e Lúcio (3) - Paulo Whitaker - 3.jun.2002/Reuters

A segunda vez ocorrerá neste sábado (10), no confronto em Istambul (Turquia) entre o inglês Manchester City, favorito ao título da Champions, e a italiana Inter de Milão.

O sistema com três zagueiros (um 3-2-4-1 no caso do Man City de Pep Guardiola e um 3-5-2 no da Inter de Simone Inzaghi) não é o predileto dos treinadores da atualidade. A preferência é por uma linha de quatro defensores: dois laterais e dois zagueiros.

Como a tática com três zagueiros é pouco usada, foram poucas as equipes que tiveram êxito nas duas últimas décadas ao implementá-la.

Lembro-me do São Paulo de 2005 a 2008, campeão da Libertadores, do Mundial e três vezes do Brasileiro, e da Juventus de meados dos anos 2010, dominante na Itália e finalista da Champions de 2016/17, famosa com o trio Bonucci, Barzagli e Chiellini.

O Chile, sob a batuta de Jorge Sampaoli, hoje treinador do Flamengo, conquistou a Copa América de 2015, diante da Argentina de Messi, com três atrás (Silva, Diáz e Medel).

O Chelsea, em 2021, surpreendeu o Man City na decisão da Champions atuando com o trio defensivo Azpilicueta, Thiago Silva (depois Christensen) e Rüdiger.

Timber, Van Dijk e Dumfries, da Holanda, vestindo uniforme laranja, consolam-se depois da eliminação diante da Argentina na Copa do Mundo do Qatar
A Holanda, uma das poucas seleções a atuarem com um trio de zaga na Copa do Qatar, caiu nas quartas de final diante da Argentina; na foto, os zagueiros Timber (2) e Van Dijk e o ala Dumfries (22) - Alberto Pizzoli - 9.dez.2022/AFP

Na Copa do Mundo do Qatar, somente 4 das 32 seleções atuavam com um trio na zaga. A Holanda é a que chegou mais longe: quartas de final. O Japão avançou até as oitavas, e Tunísia e Costa Rica pararam na fase de grupos.

O esquema com três zagueiros, que muitos veem como defensivo, na maior parte das vezes é o contrário.

Nessa formação, o mais comum é os treinadores escalarem dois laterais com a função primordial de atacar –na prática, tornam-se alas.

Assim, em vez de ter quatro atrás (dois laterais marcadores mais dois zagueiros), a equipe joga com três. É um sistema bastante apropriado quando o oponente atua com dois atacantes, pois cada zagueiro cuida de um e ainda há um na sobra, para dar cobertura.

Para a decisão da Champions, Guardiola deve escalar, para cuidar da marcação de Lautaro Martínez e Dzeko (ou Lukaku), a trinca Walker (lateral de origem), Rúben Dias e Akanji.

Fotos dos rostos dos jogadores Walker, Rúben Dias e Akanji, do Manchester City, e Darmian, Acerbi e Bastoni, da Inter de Milão
No alto, da esq. para a dir., o inglês Walker, o português Rúben Dias e o suíço Akanji, que formam o trio de zaga do Manchester City; abaixo, da esq. para a dir., Darmian, Acerbi e Bastoni, zagueiros italianos da Inter de Milão - Oli Scarff/AFP e Gabriel Bouys/AFP

O treinador espanhol usa ainda dois volantes (Stones, zagueiro de origem, e Rodri), quatro meias ofensivos (De Bruyne e Gundogan mais centralizados e Bernardo Silva e Grealish bem abertos) e o centroavante Haaland.

Esse sendo o Man City, Inzaghi não teria necessidade de recorrer a três zagueiros (Darmian, Acerbi e Bastoni), pois há só um homem avançado no rival (Haaland).

Dois beques, teoricamente, dão conta. Usando três, o treinador perde gente na marcação mais à frente ante o criativo time inglês.

A Inter tem cinco no meio-campo, porém só um deles com pegada mais forte, o volante Barella. Os laterais-alas Dumfries e Dimarco e os meias Mkhitaryan e Çalhanoglu têm características predominantemente ofensivas.

O mais prudente seria iniciar a final com um volante a mais, considerando-se que deve ser um jogo do ataque do Man City contra a defesa da Inter, que tudo indica terá bem pouca posse de bola.

Como é quase certo de que não abrirá mão do seu trio de zagueiros (que estão entrosados), é possível que Inzaghi deixe Çalhanoglu no banco –ruim porque o turco é ótimo na bola parada, que pode ser decisiva– e comece com Brazovic, que une o estilo brucutu a bom passe e fôlego de sobra.

Dois volantes (Jorginho e Kanté) e três zagueiros funcionaram para o Chelsea campeão europeu ante o Man City dois anos atrás.

Nada garante que funcionará agora, até porque o time de Guardiola está afiadíssimo, mas me parece o correto a ser feito se a Inter quiser ter alguma chance de obter seu quarto título da Champions, evitando o primeiro do adversário.

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