Tropecei outro dia em uma informação curiosa que eu até então desconhecia: existe um boato de que a diva libanesa Fairuz realizou um "milagre" durante sua passagem pelo Brasil em 1961. Segundo esse rumor, a artista fez chover na seca depois de sua performance da canção "Shatti ya Dini" (chova, ó mundo). Essa história é mencionada de maneira breve no livro "Popular Culture and Nationalism in Lebanon" (cultura popular e nacionalismo no Líbano), de Christopher Stone. O autor não menciona o causo por pensar que é real, é claro, mas como evidência da aura de Fairuz – até hoje a principal voz do Líbano. Uma das teses do livro de Stone é de que as canções de Fairuz, 87, foram peças-chave na construção discursiva da nação libanesa.
O trecho no livro de Stone me levou a sebos de vinil, até que por fim encontrei uma cópia do vinil gravado por Fairuz durante seu tour de 1961. O álbum "Min Haflat fi al-Brazil wa-l-Arjantin" (concertos do Brasil e da Argentina) foi lançado em 1962 na França reunindo duas canções apenas: "Dabket al-Mijana" e "Cantos Populares Libaneses".
As intersecções musicais entre Líbano e Brasil não estão restritas a esse vinil. Uma das canções mais emblemáticas de Fairuz, "Aatini al-Naya wa-Ghani" (dê-me a flauta e cante) foi escrita pelo cantor Najib Hankash durante os anos que passou no Brasil como imigrante. A letra é um poema de Gibran Khalil Gibran, libanês que morava nos EUA.
É notável, também, o quanto a música brasileira influenciou a cultura libanesa. Segundo um artigo de Gabrielle Messeder, os laços migratórios explicam em parte o impacto de gêneros brasileiros no leste do Mediterrâneo. Também foi importante, nesse processo, o trabalho de Fairuz, que regravou uma série de clássicos da bossa nova.
Deixo, abaixo, um trecho do vinil gravado por Fairuz no tour de 1961:
Ouçam, também, a canção de Fairuz "Aatini al-Naya wa-Ghani":
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