Pretos Olhares

Fotografia e outras linguagens da arte feitas por pessoas pretas

Pretos Olhares - Catarina Ferreira
Catarina Ferreira
Descrição de chapéu Consciência Negra

Quatro dicas para valorizar beleza negra na hora de fazer fotos

Tomar cuidado com a luz e abrir o leque de referências são alguns pontos importantes para evitar erros

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São Paulo

Não é raro encontrar nas redes sociais fotos em que pessoas negras estão com a pele acinzentada ou então muito alaranjada, que foge ao natural. Há também as fotos que não valorizam o cabelo crespo, os fios ficam muito escuros perdendo toda sua textura ou parecem desfocados. Como, então, evitar esse tipo de erro na hora de clicar pessoas com a pele escura?

Além de tomar cuidado com a iluminação, é preciso respeitar os traços das pessoas e abrir o leque de referências. Não ter medo de fotografar mais de uma vez, testar a luz, a cor e diferentes poses, até alcançar o resultado desejado, também é importante.

Foto de mulher idosa, de pele negra, com expressão sorridente
Retrato de Fátima feito por Renan Ramos; fotógrafo trabalha com campanhas para marcas de roupas, de maquiagem e faz ensaios de beleza com foco em pessoas negras - Renan Ramos

Para melhorar os retratos de pessoas negras, reuni algumas dicas dadas pelo fotógrafo de beleza especialista em pele negra, Renan Ramos.

Cuidado com a iluminação

Equilibrar a iluminação faz toda a diferença. Principalmente quando a imagem é feita em fundos brancos ou muito claros.

Ao fotografar uma pessoa de pele retinta, por exemplo, a intensidade da luz para que a cor do fundo fique próxima da realidade pode ser forte demais para a pele da fotografada. A luz muito forte pode desvalorizar a forma natural dos cabelos crespos e cacheados, afirma Renan. "A luz bate na parede branca e volta, na direção da pessoa, incide muito forte no cabelo e atravessa os cachos, então fica parecendo que os fios têm falhas."

Em estúdio, diz, é possível balancear essa luz com os equipamentos, para evitar que a foto fique desequilibrada. Fora do estúdio, se o fundo não for essencial para sua foto, prefira acertar a luz no rosto da pessoa retratada.

Vale lembrar que a pele negra pode refletir mais luz em alguns pontos, como a testa e a ponta do nariz — e isso não é um defeito, apenas uma característica.

"A nossa riqueza tá na pele"

Uma edição descuidada pode deixar a pele negra acinzentada ou laranja demais. "A pele acinzentada causa uma impressão de algo triste, sem vida", diz Renan.

Ele explica que, para melhorar a cor, uma das alterações mais comuns é mudar a temperatura dos tons da imagem para mais quente (tons mais alaranjados), ou mais fria (em tons mais azulados).

A mudança na imagem toda de uma vez pode favorecer a paisagem, mas prejudicar o tom de pele, ou vice-versa. Em programas profissionais de edição e em alguns aplicativos gratuitos é possível mexer nas cores separadamente, nesse caso, o tom que corresponde ao da pele é o laranja.

Ao editar a cor você pode alterar a intensidade (saturação) de cada uma, deixá-las mais claras ou mais escuras. No caso de uma foto em que você perceba que a pele das pessoas fotografadas ficou mais clara do que ela é realmente, é possível escurecer um pouco o laranja e deixar mais próximo do real.

Existem casos em que a edição tenta clarear a pele de uma pessoa retinta, essa prática é considerada racista e desaconselhada. O melhor é sempre considerar como a cor da pele se comporta fora da câmera. "Para mim, a nossa riqueza tá na pele."

A edição é para valorizar e não mascarar

Os contornos de luz e sombra podem acrescentar ou diminuir volumes, do corpo ou do rosto. E, por vezes, essas ferramentas de edição são usadas para afinar nariz ou lábios de pessoas negras.

Esse contorno funciona como aqueles feitos por maquiadores para valorizar o rosto das modelos, lembra Renan, e afirma que essa prática é mais comum em ensaios fotográficos de moda e de maquiagem.

No entanto, também deve-se ter cuidado ao aplicar filtros nas redes sociais, pois alguns funcionam da mesma maneira, afinam o nariz, a boca ou alteram outras características do rosto ou do corpo. No caso dos filtros, mais de uma ferramenta de edição pode ser usada, não só o contorno.

Por que é importante estar atento a essas mudanças? O racismo, ainda hoje, fere a autoestima das pessoas negras taxando seu fenótipo como grosseiro ou feio. Por isso, muitas pessoas demoram anos para reconquistar sua autoestima. Mascarar características naturais para "suavizá-las" é uma forma de perpetuar o racismo.

Escureça suas referências

Ver apenas imagens de pessoas brancas como referência pode limitar seu repertório. "Elas simbolizam uma cultura que não representa as pessoas negras", diz o fotógrafo.

E isso vale para foto, mas também para música, literatura, arte, filmes e séries. Se cercar de imagens diversas ajuda a pensar novas possibilidades para fazer fotos diferentes, compor as cores, utilizar os cenários.

Como exemplo, Renan diz ter começado a seguir fotógrafos africanos, como Michael Aboya, de Gana,
e o nigeriano Junaid Oluwatosin, e assim conseguiu inspiração para alguns de seus trabalhos. "Eles usam uma iluminação e uma cor, em fotos artísticas, em que a pele negra fica com uma luz dourada."

O fotógrafo paulista de 30 anos trabalha com campanhas para marcas de roupas, de maquiagem e faz ensaios de beleza com foco em pessoas negras. Além das marcas, faz projetos autorais em que diz usar a fotografia como forma de resgate da autoestima, usando elementos como estampas africanas e turbantes.

O que você quer ler aqui no blog? Tem alguma sugestão para o Pretos Olhares?
Escreva para catarina.ferreira@grupofolha.com.br

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