Pretos Olhares

Fotografia e outras linguagens da arte feitas por pessoas pretas

Pretos Olhares - Catarina Ferreira
Catarina Ferreira
Descrição de chapéu Todas

Religiões de matriz africana mais presentes na fotografia são legado da luta negra, diz pesquisadora

Fotógrafa e curadora, Denise Camargo afirma que reconhecimento imediato da luta contra racismo ajuda jovens a se expressarem

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O sagrado das religiões de matriz africana é tema cada vez mais frequente nas obras de jovens fotógrafos negros. São representações dos orixás, releituras de imagens sagradas, registros de rituais e a experimentação da estética dessas religiões que, devido ao racismo, foram apagadas por muito tempo.

O movimento é visto com bons olhos por Denise Camargo, artista visual e curadora, em cartaz no Centro Cultural Fiesp com a mostra fotográfica "E o Silêncio Nagô Calou em Mim".

"É incrível que estes temas surjam neste momento, não foi assim na minha época, eu demorei muito tempo para fazer essa travessia", afirma sobre a presença de temáticas da umbanda e do candomblé no trabalho de novos artistas.

Foto 'O mensageiro', da série 'Eu só acredito em deuses que dançam', de Denise Camargo
Foto 'O mensageiro', da série 'Eu só acredito em deuses que dançam', de Denise Camargo - Denise Camargo

Ela atribui o interesse pela valorização da ancestralidade a um legado positivo da militância. "Hoje eu posso de fato ser quem quem eu sou, e atuar como eu atuo, porque teve todo um movimento negro que propiciou essas ações afirmativas, e isso proporcionou a esse jovens o reconhecimento imediato da luta contra o racismo."

Professora do departamento de artes visuais da Universidade de Brasília, Denise retrata o cotidiano do candomblé desde os anos 1990. "Fui entrando pelas veredas dessa religião na mesma proporção em que eu fui me reconhecendo como uma mulher negra", conta.

Denise trabalhou como fotojornalista, fez mestrado e depois, durante o doutorado, encontrou as ferramentas que procurava para contar sua história. Ela afirma tratar em seu trabalho da descoberta do que significa ser uma mulher negra no Brasil, a partir da sua conexão com a religião.

"Fui entender que queria contar uma história que era minha. Da descoberta dessa identidade que estava adormecida em mim desde a infância, desde o trajeto que eu fazia com minha madrinha até a casa de ervas e artigos para o candomblé que tinha no bairro [onde cresci], na periferia de São Paulo, e o quanto tudo aquilo estava impregnado em mim."

Mesmo partindo de uma perspectiva pessoal, a artista diz buscar uma universalidade em suas fotografias, gerando uma conexão com o público.

Ela ressalta a importância do conhecimento na luta contra o preconceito religioso. "Às vezes, a fotografia parece não ser bem-vinda nesses rituais, mas ela é absolutamente importante. Porque a hora que você mostra você retira o significado errôneo e pejorativo que se tem por essa religião."

"E o Silêncio Nagô Calou em Mim" está em cartaz na Galeria de Fotos do Centro Cultural Fiesp, até o dia 14 de abril, de terça a domingo, das 10h às 20h, com entrada gratuita.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.