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Dinheiro impresso não é auditável

Comprar imóveis por valores fantasiosos esconde origem da bufunfa

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Uma comissão de pastores, empresários, radialistas e deputados foi convocada para debater sobre um dilema que se instaurou nesta semana depois da revelação feita pelos jornalistas Juliana Dal Piva e Thiago Herdy de que "metade do patrimônio do clã Bolsonaro foi comprada em dinheiro vivo".

A pergunta complexa que emergiu foi a seguinte: a transparência nas eleições pode ser defendida por uma pessoa que não defende a transparência?

De bate-pronto, ninguém arriscou falar em voz alta a resposta que decerto todos tinham na ponta da língua. Era necessário refletir, ponderar.

Sobre um fundo  amarelo há um splash vermelho promocional, sobre o splash há uma impressora portátil azul imprimindo dinheiro que voa por todas as partes da página.
Ilustração de Débora Gonzales para coluna de Renato Terra publicada em 1º de setembro de 2022 - Débora Gonzales

Um radialista grisalho de pele alva quebrou o silêncio. "Há uma coerência entre pedir o voto impresso e usar dinheiro impresso", afirmou.

Dois pastores concordaram e lembraram que o pagamento em barras de ouro também está livre de fraudes eletrônicas.

"O problema é que o dinheiro vivo não deixa rastros. A pessoa pode declarar a compra de um imóvel de R$ 2 milhões e pagar R$ 150 mil em cédulas. Ninguém consegue checar se o valor pago é o mesmo valor declarado. É um método muito usado para quem quer lavar dinheiro. Ou seja, a pessoa ganha fortunas de maneira ilegal e depois tem que arrumar um jeito de declarar essa grana.

Comprar imóveis por valores fantasiosos é uma prática perfeita para esconder a origem da bufunfa sem deixar pistas. Ou até o contrário. A pessoa pode comprar um imóvel de R$ 500 mil e declarar R$ 300 mil para pagar menos impostos. Quem está interessado em fazer tudo certinho faz transferência bancária.

"Ou seja, o dinheiro vivo pode ser impresso, mas não é auditável", disse uma empresária.

Tachada de comunista, essa empresária foi expulsa da reunião. Deputados lembraram a possibilidade de decretar sigilo de cem anos para a imprensa e para todas as mulheres.

O radialista grisalho ficou com o rosto levemente vermelho. Ainda não havia uma boa resposta. Num estalo, argumentou que a culpa poderia ser do Lula por não ter criado o Pix na época em que os imóveis foram comprados.

A discussão ganhou corpo -afinal, Lula também tem acusações de compras ilegais de imóveis. "E tem mais! Lula está dizendo aí que criou o Portal da Transparência. O que só pode significar que esse negócio de transparência é ruim", falaram, entusiasmados, os deputados.

Enfim, todos concordaram. Em suma, a resposta para o dilema "a transparência nas eleições pode ser defendida por uma pessoa que não defende a transparência?" seria "e o PT?".

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