São Paulo Antiga

A história e as curiosidades de São Paulo passam por aqui

Descrição de chapéu jornalismo

São Paulo não precisa de um Museu das Favelas, não neste momento

Inaugurar um novo museu sem concluir outro deveria ser crime

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Douglas Nascimento
São Paulo

Se o título desta coluna chamou sua atenção eu estou feliz por ter alcançado meu objetivo. Realmente sou totalmente contrário a este novo espaço expositivo, intitulado Museu das Favelas, que deve abrir ainda este ano no bairro de Campos Elíseos, região central da cidade.

palácio que abrigará novo museu
Palácio Campos Elíseos escolhido pra sediar o Museu das Favelas - Douglas Nascimento/São Paulo Antiga

Mas antes que você me atire uma pedra ou pense que sou preconceituoso deixo claro que nem de longe sou contrário a um museu dedicado às favelas, apenas acredito que esta não é a hora nem lugar para um novo museu a custo astronômico no momento que existem nesta mesma cidade museu com obras paradas e patrimônios culturais públicos apodrecendo há anos, com milhões de reais indo para o ralo. Atenho-me aqui apenas ao caso de museus idealizados pelo governo estadual, já que a iniciativa do Museu das Favelas é deles.

Desperdício de dinheiro público

Idealizado em 2008 e prometido para 2011 o Museu da História de São Paulo foi pensado para ocupar a espaçosa e ociosa Casa das Retortas, edifício histórico localizado no Brás bem ao lado do Parque D. Pedro II. O local foi uma enorme usina de gás construída no final do século 19 para fornecer energia para a capital. Desativada na década de 1970 foi tombada como patrimônio histórico e desde então segue sem uso.

Mas não sem obras. Desde o surgimento da ideia do novo museu o governo paulista previu um gasto de R$ 52 milhões para tornar o novo museu realidade. Segundo a própria Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo até 2018 foram gastos o dobro disso, R$ 103 milhões – valores estes ainda não atualizados para 2022 – para que fosse executado até o momento apenas 65% da obra, que está há anos abandonada.

São mais de R$ 100 milhões da área da cultura que foram para o ralo até o momento, sem muita repercussão por aí ou qualquer remorso dos governantes. Se somarmos os anos das obras paradas ao desgaste dos materiais lá utilizados, que enferrujam e estragam a céu aberto, e ao dinheiro que a cidade deixa de ganhar com geração de novos empregos, turismo e as melhorias que aquela região paulistana tanto necessita, temos uma cifra quase incalculável.

Se aberto o Museu da História de São Paulo poderia ser interligado com o Catavento Cultural, com o Mercado Municipal da Cantareira e com o futuro SESC que haverá ali, desenvolvendo um novo e movimentado polo cultural em uma área degradada de nossa cidade.

Entretanto ao invés de vermos esse museu ser concluído antes de partimos para a criação de outro, estamos fazendo gastos que ultrapassam R$ 40 milhões para o Museu das Favelas, verba essa que definitivamente permitiria ao Museu de História de São Paulo finalmente ver a luz do dia.

Projeto fracassado no palácio custou R$ 20 milhões

O projeto do Museu das Favelas, em fase de implementação no Palácio dos Campos Elíseos, me parece mais um ato de lacração do que necessidade. Nos últimos anos o espaço que outrora fora a sede do Governo do Estado de São Paulo foi restaurado duas vezes, no início dos anos 2000 e na década de 2010.

Na primeira oportunidade visava atender a um desejo do então Governador José Serra (PSDB) de despachar alguns dias no palácio como forma de estimular a recuperação do centro. A ideia jamais saiu do papel.

Já na segunda oportunidade o espaço foi novamente restaurado para abrigar o Centro de Economia Criativa do SEBRAE. Inaugurado em 2018 ao custo de R$ 20 milhões a novidade foi mal concebida do início ao fim resultando em grande fracasso e com o encerramento das atividades, deixando novamente o palácio vazio.

Agora repete-se o erro. Ao criar a custo milionário um novo museu sem antes terminar outro que aguarda mais de uma década pela conclusão o governo paulista tira a legitimidade que o Museu das Favelas poderia ter. O novo museu nasce sob a sombra da imoralidade do poder público diante do dinheiro do contribuinte e sob a mão pesada do apagamento de nossa história por nossos governantes que não investem em museus com o objetivo de educar, mas apenas para lacrar e sair "bem na foto" em uma futura eleição.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.