O que não é possível expressar com palavras, pode ser com a arte. Foi o que descobriram o psiquiatra e psicanalista Isac Karniol e a psicóloga e psicanalista Patrícia Karniol durante sessões com o artista plástico Egas Francisco.
Com uma profunda depressão, Egas raramente falava e não conseguia explicar o que estava sentindo durante as consultas. Por isso, foi estabelecida uma nova linguagem entre paciente e terapeuta por meio da arte.
Durante os encontros, o artista produziu cerca de 500 obras em consultório que agora são publicadas no livro "O Primordial no Homem Moderno", que será lançado pela Zagodoni, na quinta-feira (30), no café da editora, em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.
O livro é dividido em 89 sessões que ocorreram entre outubro de 2017 e março de 2020 e é ilustrado com as pinturas produzidas nesses dias. Cada capítulo também aborda o que foi discutido em terapia e o que os desenhos representavam para o artista.
"O Egas doou em cartório todos os esboços dele para nós. Para estudo e pesquisa e também para exposição e divulgação", conta Patrícia.
"Esses esboços são considerados verdadeiros documentos psicanalíticos. Eles mudam a história da psicanálise porque, anteriormente, o que existia na literatura, como nos casos de Vincent van Gogh (1853-1890) e Jackson Pollock (1912-1956), eram artistas que fizeram tratamentos psiquiátricos e levavam suas obras para seus analistas, só que eles entendiam essas pinturas como presentes. Eles não percebiam que nesses materiais estavam contidas informações em códigos, toda uma linguagem da mente explicando o que estava acontecendo com esses pacientes", ressalta.
A técnica utilizada por Isac e Patrícia é diferente da arteterapia, prática terapêutica que busca o tratamento de condições mentais por meio da arte, aplicada com sucesso por profissionais como a psiquiatra Nise da Silveira (1905-1999), já na década de 1940.
"O que nós fizemos não é arteterapia. No nosso caso, havia um encontro entre profissional e paciente, com forte influência analítica, em que as obras de arte eram produzidas nesse contato terapêutico", ressalta Isac.
"Na arteterapia clássica, como a aplicada pela Nise da Silveira, é fornecido o material para o paciente se expressar livremente por meio da arte, mas não há um contato terapêutico direto entre paciente e o profissional", explica o psiquiatra.
Em consultório, pacientes como Egas expressam por meio da arte -pintura, desenho, poesia- o que nem sempre conseguem dizer com palavras. A produção é examinada pelos profissionais com base na psicanálise e na psiquiatria em busca de um tratamento mais adequado.
O paciente pode ser questionado sobre o que significa aquela pintura, por exemplo, e quais são seus sentimentos por trás daquilo. Isso é feito para identificar sintomas e transtornos, ou seja, há uma interferência maior por parte do médico para entender o que a consciência daquela pessoa está tentando explicitar por meio das obras.
Bullying e arte
O método desenvolvido por Isac e Patrícia também foi aplicado pela professora Robinéia da Costa Seraphim. Os três escreveram juntos "Bullying: Quem São os Alvos?", que será lançado pela Editora CRV no mesmo dia.
O livro conta como essa abordagem foi utilizada pela professora em uma escola com um adolescente que sofria com piadas e agressões verbais de colegas.
Os desenhos e a evolução do menino podem ser vistos na obra.
Evento de lançamento dos livros
Quando: Quinta-feira (30), das 19h às 22h
Onde: Café com Leitura, espaço da editora Zagodoni, na rua Oscar Freire, 2.284, em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo
"O Primordial no Homem Moderno", Isac G. Karniol e Patrícia S.L. Karniol, editora Zagodoni, 187 págs., R$ 120
"Bullying: Quem São os Alvos?", Robinéia da Costa Seraphim, Patrícia S.L. Karniol e Isac G. Karniol, editora CRV, 98 págs., R$ 63,48
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