Saúde Mental

Informação para superar transtornos e dicas para o bem-estar da mente

Saúde Mental - Sílvia Haidar
Sílvia Haidar
Descrição de chapéu Mente

Meditação e música ajudaram profissionais de hospital de campanha a combater estresse

Pesquisa avaliou impacto de técnicas de relaxamento no dia a dia dos trabalhadores

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Durante um dos períodos mais críticos da pandemia da Covid-19, professores da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) realizaram um estudo para avaliar o impacto de técnicas de relaxamento nos profissionais que trabalhavam no Hospital de Campanha do Anhembi, na zona norte de São Paulo.

A pesquisa "Um programa de gerenciamento de estresse em um hospital de campanha Covid-19: um teste de prova de conceito" foi coordenada por Marcelo Bruno Generoso, professor do Departamento de Saúde Mental da FCMSCSP, que também atua como psiquiatra na Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo (SMS-SP). Também fizeram parte Pedro Shiozawa, professor assistente da FCMSCSP, e Ricardo Riyoiti Uchida, chefe do Departamento de Saúde Mental da faculdade.

O programa incluiu sessões de meditação, grupos de escuta e dinâmicas de música com jazz e blues e foi desenvolvido pelo Departamento de Saúde Mental da FCMSCSP em parceria com a SMS-SP. As atividades foram conduzidas por médicos residentes de psiquiatria. As quatro estratégias escolhidas foram selecionadas com base em níveis de evidência científica de programas de redução de estresse em ambientes de trabalho.

No total, participaram 441 voluntários —entre médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem e outros trabalhadores envolvidos no cuidado com os pacientes do hospital de campanha—, no período de 11 de abril e 8 de setembro de 2020.

As atividades foram realizadas em grupo, dentro da área de isolamento dos pacientes diagnosticados com Covid-19, sendo seguidas todas as normas de biossegurança. Para não afetar o atendimento, as intervenções foram feitas em sistema de rodízio de modo a permitir a participação voluntária dos profissionais, sem que houvesse prejuízo à assistência.

Com duração de cerca de 30 minutos, as sessões aconteciam quatro vezes ao dia para facilitar a aderência dos profissionais, que poderiam aderir de acordo com a demanda e possibilidades do serviço.

Os voluntários podiam participar de grupos de meditação guiada com foco em partes do corpo, grupos de meditação guiada com foco na respiração, grupo de escuta —em que eram compartilhadas angústias e dificuldades enfrentadas no trabalho—, e grupos de música, nos quais os profissionais escutavam uma música de jazz ou blues e depois eram incentivados a compartilhar emoções e sentimentos. A ordem de realização de atividades foi aleatória para permitir análise estatística dos resultados.

Foram verificados os níveis de ansiedade, motivação e estresse antes das sessões e imediatamente depois por meio de escalas visuais analógicas e escala State-Trait Anxiety Inventory (STAI) de Spielberger.

Independentemente da atividade realizada, os pesquisadores detectaram efeito positivo para todos os desfechos, com redução média de 16,75% para ansiedade, redução de 27,5% para o estresse e aumento de 9,4% da motivação.

"Curiosamente, não verificamos superioridade de uma atividade em relação a outra. A realização de todas as dinâmicas em formato de grupo, apoio mútuo, percepção de cuidado com a saúde mental e existência de um espaço seguro para conversar sobre sentimentos e emoções podem ter contribuído para os resultados positivos das intervenções", observa Generoso.

O psiquiatra diz que, entre as atividades incluídas no programa, as práticas meditativas e grupos de escuta e de apoio são as que têm maior grau de evidência científica em literatura, demonstrando melhora importante em sintomas depressivos e ansiosos.

Essas práticas podem, inclusive, ser feitas por profissionais de outras áreas que desejam reduzir o estresse no dia a dia. "A busca por estratégias de redução de estresse pode também ser individual, ou seja, cada um perceber aquilo que lhe ajuda a se sentir melhor e a suportar adversidades. Para alguns pode ser a prática de atividade física e, para outros, ouvir uma música", afirma.

Durante a pandemia da Covid-19, foram realizadas diversas intervenções ao redor do mundo, mas grande parte dos projetos concentrou-se em acolher os profissionais da saúde com o objetivo de aliviar sintomas ou intervir precocemente em caso de adoecimento. Já no estudo da FCMSCSP, buscou-se não apenas isso, mas também prevenir o adoecimento mental. "Conseguimos desenvolver as ações e medir os resultados simultaneamente, comprovando, com método científico, que as intervenções tiveram um efeito positivo", explica Generoso.

Os hospitais de campanha foram equipamentos de saúde instalados por diversas cidades em todo o Brasil para aumentar a capacidade hospitalar no período mais difícil da pandemia. O Hospital de Campanha do Anhembi realizou mais de 6.000 atendimentos e 5.000 altas, cerca de 89 mil exames entre análises clínicas, tomografias, radiologias e exames de raio-X.

Siga o blog Saúde Mental no Twitter, no Instagram e no Facebook.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.