Sons da Perifa

Sons da Perifa - Jairo Malta
Jairo Malta
Descrição de chapéu

O sucesso de Anitta reduziu a estigmatização do funk?

A abordagem da cantora e o que o funk representa nos leva a questionar se ela ainda pode ser considerada uma representante do gênero.

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São Paulo

A ascensão do funk tem destaque internacional. Nesse cenário, Anitta, que venceu pelo segundo ano seguido o prêmio de melhor clipe de música latina no VMA, o Video Music Awards, têm desempenhado um papel fundamental, levando o gênero a novos patamares de reconhecimento. Mas, mesmo com esse sucesso global, o funk ainda se vê às voltas com uma série de desafios, questionamentos e estigmatizações que geram um dilema fundamental: o sucesso da cantora ajudou os funkeiros brasileiros de que forma?

Uma das críticas mais recorrentes diz respeito à abordagem de Anitta em relação ao gênero. Muitos a acusam de adotar uma estética "genérica" do funk. Suas músicas carecem da autenticidade que é a essência do movimento. Essa discordância entre a abordagem de Anitta e o que o funk representa é uma questão que gera debates e que nos leva a questionar se ela ainda pode ser considerada uma representante do gênero.

O funk, em sua essência, é uma manifestação cultural diversificada e regionalizada. Cada região do Brasil tem sua própria maneira de ouvir e criar funk, mas todas compartilham uma origem comum nas periferias do país. O funk é muito mais do que apenas um estilo musical; ele é uma expressão cultural que representa territórios e estilos de vida específicos. Nesse contexto, a questão que se coloca é se Anitta ainda está conectada à raiz do funk brasileiro ou se sua música se distanciou demais dessa realidade.

Assim como o rap, o funk frequentemente aborda questões do cotidiano das periferias brasileiras. No entanto, essa proximidade com temas como a desigualdade social levanta outra questão: onde traçar a linha entre a apologia e o relato? É curioso notar que essa mesma pergunta raramente é aplicada a outros meios artísticos, como a dramaturgia, onde temas semelhantes são explorados de forma mais ampla e aceita.

Anitta exibe prêmio recebido pelo clipe 'Funk Rave' no VMA 2023 - REUTERS

Além disso, o funk também enfrenta estigmatização, especialmente quando associado a elementos como drogas, sexo e armas e a presença de criminosos em bailes. Essa percepção negativa contribui para a distância entre o "real funk" das periferias e a mídia tradicional, que muitas vezes o retrata o movimento de maneira preconceituosa e alarmista. A pergunta que surge é se Anitta, com sua abordagem mais comercial, contribui para essa estigmatização.

Anitta é também uma vencedora solitária no ritmo. Diferente do reggaeton que faz sucesso mundialmente com diversos músicos cantando e diferentes vertentes do gênero, o funk não têm outros representantes com sucesso equivalentes ao de Anitta, o que torna ainda mais a sua representatividade em quanto gênero muito frágil.

Outra dimensão importante a considerar é o preconceito estético e o racismo que infelizmente ainda permeiam o mundo do funk. Artistas negros e pardos, que são a espinha dorsal do movimento, frequentemente enfrentam discriminação com base em sua aparência e origem étnica. Isso destaca uma desigualdade persistente que precisa ser enfrentada e nos faz refletir se Anitta, como uma artista pop bem-sucedida, está ciente e engajada nessa luta.

Em resumo, o funk brasileiro, apesar de sua crescente influência global e diversidade cultural, continua a enfrentar desafios e estigmatizações significativas. E a pergunta persistente que ecoa é se Anitta, com sua trajetória de sucesso e evolução musical, ainda pode ser considerada uma representante autêntica do funk ou se sua música se distanciou demais das raízes do gênero. A resposta a essa pergunta é complexa e sujeita a interpretações diversas, mas uma coisa é certa: a discussão sobre a identidade e a autenticidade do funk continua relevante à medida que esse gênero musical cativa o mundo.

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