Sons da Perifa

Sons da Perifa - Jairo Malta
Jairo Malta
Descrição de chapéu

A morte do rap e como Fiuk prova que Vandal e KL Jay estão certos

Como diz o filósofo Cortella: Evoluir não significa melhorar, já que câncer também evolui

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São Paulo

Não se trata aqui de debater se Fiuk, que lançou a música "Desapeguei" com Kotim e Vinny MC pode ou não adentrar o universo do trap. Afinal, ele já demonstrou que pode —por ter dinheiro, visibilidade e ser um homem heterossexual e branco— fazer praticamente qualquer coisa, de piloto de drift a ator da Globo.

A questão mais profunda é: o que a sua transição para o trap diz sobre o estado atual do rap? Fiuk é na verdade um sintoma claro das liberdades e desvios que o cenário do rap atual permite.

Fiuk em clipe de sua nova música de trap
Fiuk em clipe de sua nova música de trap - Reprodução

O rap tradicionalmente reverenciava as raízes e a mensagem, com critérios bem definidos de autenticidade e compromisso. A entrada de do ex-BBB no trap representa uma transformação mais ampla do gênero e, para alguns, problemática. Antigamente, a inserção de um artista com o background do filho do Fábio Jr. no rap seria vista como caricatural, talvez até inaceitável.

Ao ponderarmos se o trap é uma evolução do rap, somos confrontados com a reflexão do filósofo Mario Sergio Cortella: "Evoluir não significa melhorar, já que câncer também evolui." Se a evolução implica transformação, não necessariamente essa transformação carrega em si uma melhoria. O trap, com seu apelo comercial indiscutível, pode sim ser visto como uma evolução estética do rap, mas até que ponto essa evolução conserva o propósito original do gênero?

Vandal, que na música "Aracnídeo" lamenta que "não existe mais rap, agora é só trap" e que "o rap morreu", e KL Jay, que descreveu o rap como uma "fábrica de bolachas" em entrevista à Folha, afirmam que essa "evolução" é uma perda das raízes do rap, historicamente uma voz ativa contra desigualdades e injustiças. O trap prioriza estética em detrimento de substância, afinal, se o rap é compromisso, o que acontece quando esse compromisso é substituído por uma corrida por hits virais e parcerias com marcas de luxo?

O trap de Fiuk é uma ilustração vívida das dinâmicas atuais no mundo do rap, onde a barreira para entrar é cada vez mais baixa e a profundidade artística cede lugar ao apelo comercial. Não é uma questão de se Fiuk deveria fazer trap, mas do que seu trap diz sobre o estado atual do rap.

Se esses são os novos caminhos que o rap está tomando, talvez seja o momento para uma introspecção coletiva sobre o futuro que desejamos para este gênero. A entrada de Fiuk nessa arena não é apenas um desenvolvimento isolado, é um espelho refletindo a imagem de uma cultura em fluxo, desafiando-nos a questionar e, possivelmente, a redirecionar o curso dessa evolução.

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