Sylvia Colombo

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Racismo ganha espaço no debate eleitoral da Colômbia

Recentes manifestações e candidatos negros levantam bandeira da inclusão

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Bogotá

As eleições presidenciais na Colômbia, cujo primeiro turno ocorre no próximo domingo, terão algumas novidades em relação às anteriores. Além de ter a esquerda como favorita num país jamais governado por essa vertente e ser a primeira, nos últimos tempos, em que o uribismo _corrente liderada pelo caudilho de direita Álvaro Uribe_ não é a força dominante, também vem sendo um pleito em que o racismo entrou no debate como nunca antes havia ocorrido.

Dos seis principais candidatos presidenciais, quatro tem postulantes afro-colombianos como seus vices.

A principal delas é Francia Márquez, 40, advogada, mãe solteira aos 16 anos, ativista ambiental reconhecida por sua luta contra a mineração ilegal. Porém, nem para ela, nem para os demais, a campanha vem sendo fácil. Ela é a candidata a vice do líder nas pesquisas, Gustavo Petro. Os adjetivos desqualificadores ouvem-se nas ruas e nas redes. Francia Márquez já sobreviveu a um atentado, recebe ameaças de morte regularmente e é alvo de memes e de campanha suja nas mídias sociais. O mesmo assédio virtual ocorre com o engenheiro Luis Gilberto Murillo, vice de Sergio Fajardo, atualmente em quarto lugar nas pesquisas.

A advogada e ativista Francia Márquez, candidata à vice na eleição colombiana
A advogada e ativista Francia Márquez, candidata à vice na eleição colombiana - Luisa González/Reuters

A aparição de candidatos negros na primeira linha da competição, porém, não significa o fim dos obstáculos. A Colômbia ainda é um país extremamente racista, principalmente na região andina e nas grandes urbes habitadas pela elite _na costa, ocorre uma maior valorização da cultura e da herança afro. Não é por menos que durante os protestos ocorridos em 2021, os afro-colombianos, assim como os indígenas, estavam entre os protagonistas.

Originalmente iniciadas por conta de uma proposta de reforma tributária, as manifestações logo ganharam força quando a elas se juntaram as bandeiras da luta contra a desigualdade e pelo direito das minorias. Os conflitos na cidade de Cali, duramente reprimidos, foram uma demonstração do tamanho do problema.

Além dos protestos, outros eventos na mesma época jogaram luz ao racismo na Colômbia. Um deles foi o assassinato do jovem Anderson Arboleda, de 19 anos, em Puerto Tejada, no Departamento de Cauca, pela polícia, por estar violando as regras de quarentena impostas por conta da pandemia do coronavírus. O episódio virou escândalo nacional, e ganhou projeção por ter ocorrido pouco antes do assassinato de George Floyd nos EUA. Arboleda virou símbolo da violência policial contra os negros na Colômbia.

A Colômbia tem hoje 50,1 milhões de habitantes e é predominantemente mestiça. Destes, segundo o último censo oficial (2018), 10% são afro-colombianos. Um dos maiores problemas sociais do país, o "desplazamiento", ou seja, o deslocamento de populações obrigadas a abandonar suas terras e casas no campo por conta da violência, afeta diretamente os afro-colombianos. Um quarto dos "desplazados" de todo o país é negro.

Também é predominantemente afro a população dos Departamentos mais pobres do país, como Guajira e Chocó, onde a pobreza supera os 60% da população _um contraste com a média do país, em torno de 33%.

Em 2018, o então presidente Juan Manuel Santos realizou um gesto em favor do fim do racismo. Mandou fazer uma homenagem a Juan José Nieto Gil, um escritor e militar negro que ocupou a presidência apenas por seis meses, em 1861, em meio a uma guerra civil. Na galeria de retratos presidenciais do Palácio de Nariño, sua imagem, porém, é a de um homem de pele clara. Santos pediu que um novo retrato, desta vez fiel à realidade fosse pintado, e é assim que hoje figura Nieto Gil na sede de governo.

O debate sobre a inclusão racial ainda é incipiente num país em que, até hoje, foi governado por uma pequena elite e possui tantos problemas sociais.

Que as eleições de 2022 abram de fato espaço para uma Colômbia mais igualitária.

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