Na última coluna, que antecedeu o primeiro turno das eleições, nosso tema foi a palavra "bolsonarista", cujo significado parece extrapolar o de seguidor das ideias e da política de Jair Bolsonaro. O termo vem sendo usado de diferentes formas, inclusive como uma espécie de xingamento, que englobaria um conjunto de ideias negativas, ligadas basicamente a preconceito, ignorância e truculência. "Bolsonarismo", no entanto, ao que tudo indica, segue rumo um pouco diverso.
O resultado da abertura das urnas, surpreendente para quem vinha acompanhando o movimento (ou a falta de movimento) das pesquisas, mostrou que Bolsonaro, mais uma vez, aglutinou os eleitores da direita, inclusive boa parte daqueles que apostariam na terceira via. A tese do "voto envergonhado", que justificaria a discrepância em relação à pesquisa da véspera, explicaria o resultado favorável ao presidente.
Como citado no texto da semana passada, o professor Marcos Cintra, vice da candidata Soraya Thronicke, ao afirmar, em entrevista à coluna Painel S.A., que votaria em Bolsonaro no segundo turno, estabeleceu uma distinção entre "comportamento bolsonarista" e "pensamento bolsonarista", que nos parece útil relembrar: "Frente à alternativa, eu acho que a visão bolsonarista combina mais com o meu modo de pensar do que o grupo do PT. Não com o meu modo de comportamento, mas de pensamento".
Cintra talvez tenha dado um bom argumento para conservadores que defendem a política econômica neoliberal abraçada por Bolsonaro, mas não querem ser confundidos com pessoas ignorantes, preconceituosas e truculentas.
A divisão didática proposta pelo professor nos ajuda a compreender que o sentido pejorativo de "bolsonarista" está ligado apenas ao comportamento social da base popular, não ao ideário em si, que, pelo menos na economia, converge com o da terceira via. Talvez por sua própria formação o termo "bolsonarismo" sugira um conjunto de ideias ou uma "filosofia", o que o afastaria um pouco do sentido pejorativo de "bolsonarista".
Os movimentos de apoio às duas candidaturas oponentes no segundo turno, ao que parece, vão dar alguma sobrevida ao termo "bolsonarismo". Aguardemos.
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