Tinto ou Branco

Tudo que você sempre quis saber sobre vinho, mas tinha medo de perguntar

Tinto ou Branco - Tânia Nogueira
Tânia Nogueira

Champanhe, luxo e pequenos pecados em Paris

Hotel cinco estrelas no Marais seduz com bebidas, comidas e referências sexuais

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Paris

A primeira coisa que chama a atenção de quem entra no apartamento do hotel Sinner (pecador, em inglês), em Paris, é o bar (que não chamarei de mini porque seria uma injustiça). Lá está ele, lindo e bem iluminado, em um nicho, perto da porta. Taças de vinho no formato certo, taças de drinques em cristal lapidado e copos highball também de cristal brilham à frente de uma coleção de drinques e destilados em pequenas garrafas de várias cores e design perfeito. No canto, a coqueteleira, o balde e o pegador de gelo, todos prateados e muito brilhantes, denunciam que ninguém está ali para brincadeira: aquele bar é para profissionais.
Ao abrir a geladeira, o hóspede logo se depara com duas meias garrafas de champanhe, não de qualquer champanhe, meia garrafa de Deutz Brut Rosé e meia de Bollinger Special Cuvée, dois champanhes muito especiais. Ao lado delas, uns tubinhos coloridos de poppers (estimulantes inaláveis muito usados em baladas gay para aumentar o prazer sexual). O visitante, que caminhou por corredores escuros para chegar até o quarto, começa então a desconfiar que quem arranjou aquele cenário é, de verdade, um conhecedor das fraquezas humanas, talvez um mestre na arte de provocar tentações.

Taças de cristal na frente e garrafinhas de drinques ao fundo
No apartamento, o hóspede encontra um bar completo com drinques engarrafados e taças de cristal lapidado - acervo pessoal/Tânia Nogueira

Fecha, então, desconfiado, a porta da geladeira e sobe os olhos para as prateleiras acima do bar, onde alguns produtos estão à mostra. Nomeie o seu pecado preferido, e ele estará lá: jogos de cartas e tabuleiros, uma garrafinha de bolso para uísque, camisinhas, chocolate… Abre a porta do guarda-roupa e encontra um chicotinho sadomasoquista. Vai ao banheiro e, entre as amenidities, encontra um tubinho de lubrificante. Melhor abrir uma daquelas garrafas de champanhe ou fazer um drinque, certamente, pensa o hóspede acidental que foi parar nesse hotel desacompanhado.
O hotel, um cinco estrelas no bairro Le Marais, é um parque de diversão temático para pecadores. Alguns ambientes são escuros como os de uma balada. Às vezes, um pouco demais, mas faz parte da brincadeira. O design de interiores de Tristan Auer joga com o preto e o vermelho, criando um ambiente de inferninho. Joga também com símbolos cristãos. Segundo o COO do Sinner, Simon Sallé, isso é uma referência à Ordem dos Templários, que habitaram o Marais (os próprios franceses muitas vezes suprimem o "Le") na Idade Média. Na minha opinião, no entanto, estão lá porque não existe pecado sem cristianismo.
"Esse clima sexy e provocativo é uma brincadeira", diz Simon Sallé, COO do hotel. "Temos hóspedes de todos os tipos. Tem gente que traz os filhos (realmente no café da manhã havia crianças). Quem nos procura quer o luxo de um hotel cinco estrelas, o serviço impecável, mas não quer a formalidade dos hotéis-palácio, por exemplo. Quer algo mais divertido". Para quem não sabe, Paris tem alguns hotéis de luxo que se assemelham muito a palácios da época do rei Luís 15. "Quem se hospeda no Marais não é turista", continua. "É quem conhece Paris e quer estar entre os parisienses".
Tarde da noite quando chega da rua, o hóspede encontra o bar no térreo aberto, com um DJ tocando e, normalmente, grupos de pessoas da cidade bebendo. Se o pecado preferido desse hóspede for, como é o nosso, a gula, ele vai parar. Ali pode beber drinques de uma fina coquetelaria, pedir o champanhe Sinner, que é produzido pela Champagne Ayala, uma das mais renomadas, ou escolher um vinho da carta. Para quem gosta de boa bebida fica difícil resistir. A cozinha de inspiração mediterrânea do chef Adam Bentalha é outra tentação para quem chega um pouco mais cedo.

taça de champanhe
No Sinner Bar o champanhe é servido na taça coupe de cristal lapidado - acervo pessoal/Tânia Nogueira


Com diárias que variam de 650 euros, para o apartamento clássico na baixa temporada, a 3.500 euros, para a suíte na alta temporada, o Sinner compete com hotéis de luxo dos mais diferentes estilos. Ele faz parte do grupo Evok Collection, que tem uma proposta de luxo bastante diferente da convencional, os quatro hotéis do grupo em Paris foram pensados para retratar os bairros onde estão inseridos. O Sinner fica no Marais...
Um bairro cheio de história, com prédios medievais e renascentistas, magníficos hôtels particuliers (hotéis particulares, ou melhor, palácios privados) e ruas sinuosas onde o sol mal chega, o Marais reúne hoje galerias de arte, baladas gays, lojas, bares e restaurantes super hypados. É o bairro gay mais famoso de Paris e, até por isso mesmo, atrai modernos de todos os tipos, idades e orientações sexuais. É também o bairro dos judeus e das portinhas onde se pode comer o melhor falafel (bolinho de grão de bico) do ocidente.
Seu nome significa "O Pântano". No início do milênio passado, a região foi drenada e ali se plantavam hortaliças. Muito próximo ao Louvre, que foi residência real do século 14 ao século 17, acabou atraindo a aristocracia. Ali, em 1612, o rei Henrique 4 mandou construir no Marais a linda Place des Vosges, até hoje um dos endereços mais caros da cidade.
A região foi residência de banqueiros judeus, mas no final do século 19 e início do 20 recebeu também imigrantes judeus fugidos da Europa do Leste. Esses trouxeram o comércio para as ruas estreitas. Os antigos palácios foram virando museus. Hoje há vários deles, de muita qualidade, por lá. Mais tarde, vieram as galerias de arte, os gays, as lojas de marca, as lojas-conceito, mais bares, mais restaurantes, mais boêmios. E os hotéis, é claro. Entre todos, o Sinner se destaca por retratar tão bem o espírito do bairro: luxuoso e bem pouco convencional.

A jornalista Tânia Nogueira hospedou-se duas noites no Sinner a convite da Evok Collection

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