Bombou na semana passada a entrevista do ator Thiago Fragoso à Folha em que diz que as vagas para atores héteros, brancos, loiros e de olhos azuis estão minguando no audiovisual.
É uma discussão chata, mas importante. Lá vamos nós.
Há quem diga que é "mimimi" dar mais espaço a pessoas fora do padrão Thiago Fragoso nas novelas e filmes. Mas praticamente todo mundo concorda que é um absurdo ter apenas atrizes negras nos papéis de empregadas domésticas, por exemplo. Ou apenas atores negros interpretando traficantes. Só casais heterossexuais nos mais diferentes núcleos de um folhetim… E por aí vai.
Ainda que digam que o "mundo anda chato", pessoas com alguma noção concordam que a ficção precisa, em alguma medida, refletir o Brasil como ele é. E também imaginar como o Brasil poderia ser.
A Globo, uma das maiores produtoras de conteúdo do mundo, já sacou isso. E tem mudado, investido em tramas diversas, criado espaços para outras narrativas, outros protagonismos. E tem errado, também. Pesado a mão, talvez. Forçado na militância, como diria o pessoal do falecido Twitter.
Flávio Ricco, colunista da TV, sempre lembra em suas colunas a falta que o conteúdo de humor faz nas grades das emissoras. O especialista atribui a escassez do riso na televisão ao medo do cancelamento e da patrulha do "politicamente correto", outro termo usado para criar cisão, mas que na verdade mostra que há um grande consenso.
A audiência não radicalizada não concorda em ridicularizar LGBTs, muito menos em criar piadas com pessoas com deficiência ou ainda fazer chacota com mulheres. Mas as pessoas querem e precisam rir. Acabar com a possibilidade de criar uma solução para o humor não parece ser a melhor saída.
Pessoas como Thiago Fragoso, que dizem se sentir ameaçadas porque agora não têm mais um oceano de oportunidades (apenas piscinas olímpicas), poderiam usar de sua experiência numa colaboração para a equidade. É um erro pensar que políticas de diversidade serão perfeitas. É um erro ainda maior não ajudar a construir mundos em que reparação de injustiças seja possível.
Enquanto os que nadam de braçada param de reclamar e contribuem com ideias, quem nunca pôde molhar os pés na água pode dar seus primeiros mergulhos.
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