Vidas Atípicas

Em busca de respostas para dúvidas profundas e inesgotáveis sobre o autismo

Vidas Atípicas - Johanna Nublat
Johanna Nublat

Uma alternativa para ampliar o acesso de autistas a terapias

Modelo prevê ensinar habilidades em contexto de grupo, incluindo escolas

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Crescendo com irmãos gêmeos autistas oito anos mais novos, na década de 1990, na Itália, Giacomo Vivanti conta que sempre se questionava sobre a viabilidade de se trabalhar intervenções em esquemas de 1-1 (um que ensina e um que aprende, bem comuns em terapias para autistas).

"Sempre me via em situações em que tentava fazer algo com um deles — ensinar algo, engajar em qualquer atividade. Eu tinha que pensar 'como faço dessa experiência uma experiência em que ambos podem se divertir, tirar vantagem e aprender ao mesmo tempo?’", diz Vivanti, hoje professor associado e chefe do programa de pesquisa de detecção e intervenção precoce do Instituto de Autismo A.J. Drexel, nos Estados Unidos.

Vivanti esteve em Brasília, na última semana, para ministrar dois cursos sobre o modelo Denver de intervenção precoce em grupos, que ele criou a partir de sua experiência com o Denver 1-1. O modelo é focado em crianças de até cinco anos, de qualquer nível de suporte, e baseado no checklist Denver (uma longa lista de habilidades, divididas em três níveis, que é a base para o ensino no modelo Denver).

Três adultos e uma criança seguram um puf com uma criança em cima durante treinamento no modelo Denver em grupos
Giacomo Vivanti em treinamento no modelo Denver em grupos, em Brasília - Divulgação

A proposta de Vivanti é fazer intervenções em grupos pequenos — incluindo salas de aula de ensino regular — mesclando instruções em grupo com instruções 1-1 em contexto de grupo, o que aproxima a intervenção de modelos mais naturalísticos de ensino. "Você cria uma experiência em que, em vez de falar ‘bata palmas’, você fala ‘todo mundo batendo palmas’. Ou, quando você sopra bolhas de sabão, em vez de olhar para uma criança e dizer ‘um, dos, três e…’ e esperar ela dizer ‘já’, você faz isso com três crianças. É possível."

Segundo Vivanti, o modelo tem flexibilidade para identificar crianças que, por um período específico, mas curto, precisem de intervenções individualizadas antes de voltar ao ambiente do grupo.

"Hoje a gente entende que cada criança é diferente e que precisamos de uma aplicação flexível de práticas baseadas em evidência, que dependem de necessidades, preferências e especificidades do que estamos ensinando. Pense na linguagem. Algumas crianças podem precisar de experiências mais intensas 1-1 para aprender a comunicação verbal, assim como nós adultos, quando aprendemos japonês, inicialmente podemos nos beneficiar de um professor dedicados a nós. Talvez, depois de um certo tempo, nos tornemos capazes de continuar aprendendo japonês numa sala de aula com outros aprendizes", compara.

O aprendizado, no entanto, vai mais além de aprender a língua em si: "Para as crianças, é difícil aprender sua primeira língua como para nós é difícil aprender uma segunda língua. Elas também estão aprendendo sobre uma cultura. Se vamos para o Japão, não apenas precisamos entender japonês mas também o comportamento que precisamos ter no Japão. Como participar da cerimônia do chá", exemplifica.

Segundo Vivanti, o modelo em grupos ainda tem o potencial de contornar questões logísticas e financeiras que impedem que muitas famílias acessem terapias baseadas em evidências científicas — terapias intensivas, com frequência, custam múltiplos de um salário mínimo por mês. O potencial existe, sobretudo, quando se aplica o modelo em grupos no contexto escolar — o que já foi testado nos Estados Unidos, em Israel, na Itália e na Austrália, mas ainda não no Brasil, explica ele.

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