Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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Homens, mulheres e peixes

Dentro de um aquário, nem com ração balanceada é possível viver feliz

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Voltaire de Souza

Frieza. Ignorância. Crueldade.

Tratar bem os animais domésticos é dever de todos.

Na França, uma empresa revela.

Peixinhos dourados podem enlouquecer.

A causa? Aquários pequenos e redondos.

Dona Maria Helena ficou impressionada.

–Puxa. Nunca pensei.

Na casa dela, o peixinho tinha nome e sobrenome.

–Príncipe Giancarlo.

Ela conversava todos os dias com o pequeno animal.

–Oi, meu amor.

–Blub.

–Comprei raçãozinha para você.

–Glorg.

–É de outra marca, você não vai enjoar.

–Plup.

Giancarlo girava e girava dentro do pequeno globo de cristal.

–Será que ele está louco mesmo?

Maria Helena aproximou o rosto da borda abaulada.

–Parece tão feliz…

De fato.

O peixinho aproximou-se para investigar o rosto da aposentada.

–Será que eu preciso mesmo comprar um aquário maior?

A conta no banco não era nada dourada.

–Mais para o vermelho intenso.

Ela cogitava de outras possibilidades.

–Dar para algum vizinho?

Na cobertura, o empresário Rafaelli parecia estar bem de vida.

–E tem duas filhinhas.

Mas aí haveria outra crueldade.

–Esse peixinho é a alegria da minha vida.

Solidão. Tédio. Falta de amor.

–A outra alegria é dourada também.

O uisquinho começava às três da tarde.

O sono chegou depressa.

Junto, veio a visão romântica.

Um jovem apareceu na suíte.

–Maria Helena. Me solta. Me libera.

Olhos escuros e hipnóticos. Cabelos loiros. Com toques de vermelho.

–Príncipe Giancarlo? Você virou gente?

–Me leva para a cobertura.

–Mas… não quer ficar comigo?

–Prefiro o empresário… aquele que você falou.

A visão se evaporou.

Maria Helena já se desfez do peixinho.

–Ingrato. Metido a besta. Interesseiro.

O ser humano, por vezes, é como um pequeno peixe.

Quando o apartamento é tipo estúdio, a mente se povoa estranhamente.

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