Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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Falta um brasileiro na festa do Oscar

No mundo líquido, até a famosa estatueta tem sua versão engarrafada

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Prêmios. Rivalidades. Disputas.

O cinema é, ainda, a melhor diversão.

O mundo se prepara para a festa do Oscar.

O Homem-Aranha ficou de fora.

O Brasil também.

Elpídio era um velho militante de esquerda.

–Besteirada.

No seu pequeno apartamento em Santa Cecília, ele tomava mais uma dose de conhaque.

–O país afundando… e as pessoas se ligando em besteira.

Não totalmente.

No filme "Belfast", os conflitos na Irlanda são tratados com seriedade e ternura.

–A rainha da Inglaterra é uma sacana de marca.

Elpídio tomou mais um golinho.

–Nunca tomei uísque. Só conhaque. Nacional.

As garrafas de Dreher se perfilavam na prateleira da cozinha.

–Mas como eu ia dizendo.

Desta vez, o público poderá votar em seus filmes preferidos.

Pelo twitter.

–Nunca instalei. É espionagem americana.

Ou chinesa. Nunca se sabe.

Também o filme do 007 ficou de fora.

–Ah. Mas as massas vão eleger essa porcaria.

Eram amargas as opiniões de Elpídio sobre o voto popular.

–Pura manipulação.

O velho televisor Colorado RQ não o deixava mentir.

–Olha aí. Novela bíblica. Pregação de evangélico.

A garrafa já estava vazia.

Passos hesitantes conduziram Elpídio até a cozinha.

Veio a surpresa.

No lugar das garrafas de conhaque, uma fila de troféus.

Dourados. Brilhantes. Reluzentes.

Elpídio sentiu o peso da estatueta.

–Um Oscar?

Quando ele voltou para a saleta, um visitante o esperava de pé.

Alto. Loiro. Olhos azuis. Em traje de smoking.

–Arnaldo Jabor?

O consagrado diretor e cronista brasileiro sorria para o antigo militante.

–Thank you, Elpídio…

–Você? No Oscar?

–O mundo mudou, meu caro.

–Mas… o cinema nacional…

O simpático fantasma apontou para o televisor.

–Esquece esses bispos, rapaz.

A estatueta se transformou em controle remoto.

–E põe na Globo, pô.

Elpídio acordou confuso e com dor de cabeça.

–Ué… o que aconteceu?

A vida é como um grande filme de espionagem.

Basta fechar um pouco o olho, e você não entende mais nada.

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