Fraude. Roubalheira. Enganação.
A notícia é preocupante.
Estaria o Exército envolvido?
Com a palavra, o Tribunal de Contas.
Estranhas compras de cloroquina.
A substância foi indicada para tratar do Covid.
A ciência contesta o tal remédio.
O general Perácio fazia cara séria.
–Não vamos nos contaminar.
O assessor Guarany tossiu levemente.
–Mas, general…
–O quê?
–O senhor já foi contaminado.
Algum tempo atrás, o teste de Covid tinha dado positivo.
–Ridículo. Foi só uma gripinha.
Guarany fez uma retirada estratégica.
–Um mal-estar…
–Exatamente.
Os assuntos do dia eram mais urgentes.
–Fraude? Isso eu não admito.
–Roubalheira, menos ainda, né, general.
--Nunca.
Perácio tinha uma boa notícia.
–Prova de que estamos investigando com seriedade.
–Devo chamar a imprensa, general?
A mão de granito explodiu sobre a mesa de jacarandá.
–Chamar esses comunistas? Claro que não.
O pronunciamento viria de forma oficial.
–Senta aí, Guarany. Que eu vou ditar.
–Perfeitamente, general.
A voz de Perácio assumiu tonalidades estridentes.
–O Exército não aceita fraudes.
Outro tapa na mesa.
–E as investigações mobilizam nossos especialistas em eletrônica.
–Eletrônica, general?
–Claro, Guarany.
–Mas não é a compra da cloroquina?
Veio o terceiro tapa.
–Idiota. Quem está falando em cloroquina?
–Mas…
Perácio já estava gritando.
–É a urna eleitoral, Guarany. A urna eletrônica.
Os olhos de Perácio tornaram-se penetrantes.
–Fraude na certa. Roubalheira evidente.
–E enganação pura, né, general.
–Sem contar as pesquisas, Guarany. As pesquisas.
–Sobre o Covid?
–As pesquisas eleitorais, Guarany. Mas que sujeito burro.
O ar se contamina.
Odores dúbios de suspeita se espalham pelo ar.
Mas cada um escolhe onde meter o nariz.
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