Charme. Glamur. Bofetada.
No Oscar, o caso criou polêmica.
O ator Will Smith não levou desaforo para casa.
E, ainda por cima, levou uma estatueta.
O famoso estilista Kuko Jimenez acompanhava os acontecimentos.
–Discriminação pura.
Ele se solidarizava com a mulher do ator.
–Uma das mais bem vestidas de toda a noite.
Veio a ideia.
–Meu próximo desfile. Vai ser uma homenagem.
Só modelos carecas.
–Vestidas de azul e amarelo.
Pela Ucrânia.
–Minha coleção já tem nome.
O pincel mágico traçaca rápidas linhas no bloco de papel.
–Crãnios pela Ucrânia.
A modelo Juju Santoro apoiava o plano.
–Acho legal raspar o cabelo.
Ela pensou mais um pouco.
–Mas será que… não vai dar confusão?
–Por quê, Juju?
–O Putin.
–O que é que tem?
–É careca também.
Kuko respirou fundo.
–Sabe, essa invasão é uma coisa horrível…
–Claro, né, Kuko.
–Mas o Putin… acho ele o maior charme.
Machismo. Masculinidade. Terno e gravata.
–Isso é um absurdo, Kuko.
O estilista baixou os olhos.
–Verdade. Vou ter de conversar com o meu terapeuta.
Um último drinque com vodca e suco de tangerina encerrou a noite.
Na sua luxuosa suíte, Kuko fechou os olhos para um sono cheio de conflitos.
Um palco vermelho. Um teatro lotado.
–The winner is… Kuko Jimenez.
Ele vencia a premiação mais famosa de Hollywood.
–O Oscar… não tinha reparado. Mas ele é careca também.
Kuko examinava a estatueta de perto.
–Ué… parece que está sorrindo para mim…
O rosto era conhecido.
–Putin? Todo vestido de dourado?
–Kyuko… Isiguiura namya trabyuka.
Kuko sentiu a frieza de um cano metálico perto do pescoço.
–Vladimir? Cadê você?
Era o assaltante Antõnio Igor.
Coadjuvante poderoso num arrastão de condomínio.
Mais careca do que capô de Volkswagen.
Joias, relógios e celulares foram subtraídos do patrimônio pessoal do estilista.
Kuko sente a revolta ferver nas veias.
Mas há casos em que não adianta dar tabefe.
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