Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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Voltaire de Souza

Sonhando com o Oscar

Um pai rico e bem-sucedido nem sempre auxilia a carreira de uma jovem atriz

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Arte. Talento. Ambição.

Helen tinha um sonho.

–Virar atriz.

A bela jovem se olhava no espelho.

–Tenho todas as qualidades.

Os olhos verdes.

O cabelo loiro.

E o corpo bem brasileiro.

Cursos. Oficinas. Work-shops.

–Papai paga tudo.

Tratava-se de um bem-sucedido pastor evangélico.

–Filha, quem sabe um dia você entra numa novela da Record.

Helen sonhava mais alto.

–O Oscar, papai.

–Tenho amigos importantes em Miami.

–Mas é Hollywood, papai.

–O que você quiser, filhinha.

Veio a pandemia.

Atrasando a carreira da simpática loirinha.

–Curso online não é a mesma coisa.

A contaminação decresce no momento.

Helen voltava a sonhar.

–Nossa… já é a festa da premiação.

De fato.

A Academia mais uma vez se reúne para distribuir o cobiçado prêmio.

Helen acompanhava o noticiário.

–Faltam sempre os brasileiros.

Se telenovela contasse, quem sabe nosso país teria mais chance.

Helen gastava noites no laptop.

–Esse vestido ficaria bom para mim…

Um espetacular longo em lamê verde e amarelo.

Assinado pelo famoso estilista Kuko Jimenez.

–Adoro ele.

O sono ia fechando as delicadas pálpebras da futura premiada.

Um rumor em inglês tomou conta do seu fone de ouvido Swarowski.

–Winner… the Oscar… Brazil…

O palco iluminado. O charme. O glamur.

–Nossa… já é a premiação?

Helen estava na plateia do consagrado teatro.

A tradução simultânea corria atrás do apresentador.

–Produção brasileira… sem dúvida uma das…

–Nossa.

–Atriz.. Não, ator… efeitos especiais… agora é porque apesar Brasil chega então…

Helen não conseguia acreditar.

–Papai? Estão te chamando?

–Best enganêitor… best tapyêitor…

O pai de Helen pisava o palco com segurança.

Para receber a cobiçada estatueta.

–Ué… mas isso é o Oscar?

Era uma barra de ouro. Pesando um quilo.

–The winner is… Pastor Avarildo de Mello…

O pai de Helen agarrava a recompensa.

–É só o começo da minha carreira…

O líder evangélico fez seu discurso.

--Agradeço ao Ministro da Educação… ao Bolsonaro… à Helen.

Um leve rubor de vergonha coloriu o rosto da ninfa.

–Mas o que é que eu tenho a ver com isso?

–Agradeço ao Brasil. E a Deus, acima de todos.

Helen despertou subitamente de seu sonho.

Em cima da lareira do palacete, no salão principal, estava a barra de ouro.

–Quer saber? Não vou ser mais atriz.

Ela resolveu virar pastora também.

–Na igreja do papai.

Prêmios são importantes.

Mas o reconhecimento financeiro, por vezes, chega mais depressa.

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