Brilho. Polêmica. Animação.
É o desfile das escolas de samba.
Um enredo atrai elogios e críticas.
O Poder de Exu.
Criação da Grande Rio no Carnaval fora de hora.
O pastor Avarildo não se conformava.
–Isso não é cristão.
O povo da Bíblia nem sempre aceita os cultos africanos.
–Exaltação do diabo. A esse ponto chegamos.
Era preciso caprichar no culto daquele domingo.
–Vou fazer um exorcismo daqueles.
A ideia era agir sobre os próprios meios de comunicação.
A beata Sulamita ajudava na preparação.
–Estamos aí, pastor. Esquentando os tamborins.
–Faz o seguinte, Sulamita. Pega aquela televisão da sua casa.
Tratava-se de um antigo modelo ABC gigante.
–Quase da minha altura.
Era sucesso em meados da década de 70.
–Vamos ver se o Toninho cabe aí dentro.
O plano era engenhoso.
Um subnutrido adolescente do bairro se esconderia dentro do eletrodoméstico.
–Você vai ser o exuzinho.
–Bacana, pastor.
–E na hora do culto eu tiro você aí de dentro.
Cânticos. Preces. Orações.
As pálpebras de Avarido se fechavam e tremiam.
Era o transe religioso.
–Jesuuuuus…
Gestos dramáticos apontavam para a televisão.
–Sai, capeta.
Toninho fazia força para abrir a tampa de madeira da estrutura vintage.
Foi quando Avarildo deu um grito.
–Não. Vocês não.
A visão era impressionante.
Um cortejo de capas negras e faces severas.
Eram os ministros do STF.
–As legiões de Belzebu.
Num troninho vermelho, outra figura apareceu.
–Lula?
Atrás do candidato, sete morenas espetaculares.
Fechando o desfile, todo de vermelho, estava Zeca Pagodinho.
–Fica tranquilo, Avarildo. Qualquer coisa eu saio do país.
Avarildo caiu inerte no tablado do templo.
O pequeno exu Toninho e a beata Sulamita carregaram o pastor para uma área de descanso.
–Acho que ele exagerou na cocaína.
–Deixa loucão assim?
–Pode crer, Toninho. Pode crer.
Religiões diversas convivem no país.
Mas há carnavais para todos os gostos.
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