Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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Descrição de chapéu forças armadas

O povo sou eu

Esperanças de um carnavalesco podem frustrar-se com a intervenção dos poderosos

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Briga. Barraco. Discussão.

É sempre assim.

A premiação das escolas de samba nunca decorre tranquila.

Eram grandes as esperanças do carnavalesco Tutu Bernardes.

–Nossa escola tem reais chances de chegar na frente.

O sucesso no sambódromo tinha sido expressivo.

–Nosso enredo foi sobre o cinema nacional.

"Deus e o Diabo na Terra do Samba".

–Mas sem esquecer as conotações políticas do momento.

Um carro alegórico mostrava tanques russos invadindo a Ucrânia.

–E o Putin de chifre e pé de cabra.

As religiões brasileiras também apareciam com destaque.

–Teve a Gilvanka. Como a Pastora Possuída.

A ala dos milicianos era composta de transsexuais da comunidade.

–Os 38 Convertidos.

Tutu acompanhava a apuração.

–Isso aí. A gente vai ganhar.

Ele sonhava com a passagem para o Grupo B.

–Aos poucos a gente chega lá.

Gilvanka sorriu de modo provocante.

–Posso orar pelo nosso sucesso?

–Vale tudo, Gilvanka.

As notas foram sendo divulgadas.

–É dez. É dez. É dez.

As lágrimas surgiam nos olhos de Tutu Bernardes.

–Depois de anos de rebaixamento…

O grito ia brotar do peito.

–É camp…

Foi quando se ouviu o estalo de uma mão de granito sobre a mesa de apurações.

Era o general Perácio.

–E não estou aqui para aceitar brincadeira.

Ele tirou um papelzinho da farda.

–A escola campeã é outra.

Os Unidos do Morro da Anta.

–Com nosso enredo patriótico.

Transamazônica: Epopeia de um Regime.

Um destacamento de oficiais dava legitimidade à decisão.

–Em matéria de desfile, quem entende somos nós.

Tutu ainda quis reclamar.

–Palhaçada, pô.

Perácio gritava com voz fina.

–Ofensa ao Exército eu não admito.

–Mas o senhor está interferindo no resultado da votação.

–O Exército é o povo. E você não tem nada a ver com isso.

Passa o Carnaval.

Mas o tempo das alegorias permanece.

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