Este país não tem jeito
Tragédia. Ilegalidade. Bangue-bangue.
É a Amazônia.
O mundo se choca com a morte de Dom e Bruno.
João Eulálio era um jovem liberal.
--Caso lamentável, sem dúvida.
Índios e ambientalistas são assassinados com frequência.
--Aquilo lá é um verdadeiro faroeste.
A manhã trazia baixas temperaturas ao seu escritório no Alto de Pinheiros.
--Agora, tem uma coisa.
Ele tomou um gole de chá.
--Isso não é necessariamente um negócio ruim.
Números e planilhas apareciam na tela do seu computador.
--Os Estados Unidos tiveram seus tempos de faroeste.
De fato. O cinema nos mostra as guerras entre índios e caubóis.
--E veja o resultado.
João Eulálio mordiscou uma broinha de fubá.
--Tornaram-se o maior país do mundo.
Seus dedos moviam-se com agilidade pelo teclado.
--Isso não foi feito sem sacrifícios. E a Amazônia precisa de atividade econômica.
Garimpo. Tráfico. Pesca ilegal.
--Veja como é a coisa. Primeiro, a gente dava o peixe.
Ele tomou mais um gole de chá verde.
--Depois, ensinou a pescar.
Havia melancolia no sorriso de João Eulálio.
--Agora, quando o sujeito quer pescar...
Ele estava indignado.
--Aparecem índios e ambientalistas para proibir tudo.
João Eulálio fechou o computador.
--Quer saber? Este país não tem jeito mesmo.
É importante que nossas leis sejam cumpridas.
Mas, para alguns economistas, a legislação é como rede de pesca.
Quanto mais furo, melhor.
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