Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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O mito se desfaz

O martelo do Homem-Trovão nem sempre esmaga os fantasmas da classe média

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Luta. Coragem. Aventura.

O cinema é, ainda, a melhor diversão.

Um herói clássico volta à tela grande.

Thor. Amor e Trovão.

O belo deus nórdico está agora em boa companhia.

A famosa atriz Natalie Portman acrescenta paixão ao homem do martelo de aço.

O sr. Sabóia estava na fila do cinema.

–Cada coisa que eu tenho de fazer…

A filha tinha se separado do marido.

–E sobra para mim levar o neto no cinema.

Era intenso o seu mau humor.

–Quanta bobagem.

Ele explicava.

–Não sabem que esse aí é um deus pagão?

Histórias bíblicas eram as preferidas do ex-comerciante.

–Tanta coisa mais importante para cuidar…

De fato.

Os negócios na loja de calçados iam muito mal.

–É dívida que não acaba mais.

Depois, vinha a política.

–O capeta está querendo ganhar de novo.

Só havia uma solução.

–Acaba com as eleições de uma vez, pô.

O netinho se chamava Diego.

–Vô.

–O que é?

–Dá dinheiro para eu comprar pipoca?

–Começa a trabalhar que você gasta o que quiser.

–Mas, vovô…

–Puxou o pai dele… querendo viver nas minhas costas.

Diego ficou em silêncio.

Muitas noites mal dormidas cobraram seu preço no organismo do sexagenário.

Os roncos de Saboia rivalizavam com os trovões da Escandinávia.

A visão de um deus loiro apareceu na frente do calçadista.

–Saboia… teus problemas terminaram.

O poderoso martelo brilhava como uma aurora boreal.

Um estrondo arrebentou a fila inteira de urnas eletrônicas.

–E agora, vamos para o banco.

Outra martelada rompeu o cofre-forte da agência.

A serenidade voltava à alma de Saboia.

–Thor… mais uma coisa…

–O quê?

–O Renato…

Tratava-se do genro.

–Arrebenta com ele também.

Foi quando Saboia sentiu uma forte dor no dedão do pé.

Era o neto pisando nele.

–Levanta, vô. O filme já acabou.

Saboia tenta se adaptar à realidade.

Alguns ideais políticos são como filmes.

Você pode gostar do Homem-Trovão.

Mas nem sempre é o caso de curtir a sequela.

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