Polêmica. Nervosismo. Polarização.
É o segundo turno.
O sr. Saboia estava cansado.
—O país precisa produzir.
As encomendas se acumulavam na sua pequena fábrica de cadarços e barbantes.
—Essas eleições só servem para atrapalhar.
As ordens eram claras naquele estabelecimento industrial.
—Aqui ninguém fala de política.
Ele suspirava.
—Afinal, o que importa não é a política. É a economia.
O empresariado busca sinalizações claras por parte dos candidatos.
A filha dele se chamava Rosiany e ajudava na administração.
—Mas, papai... por isso mesmo. A gente precisa de um presidente que crie um ambiente favorável.
O sr. Saboia sorriu.
--Como empresário, minha posição é de absoluta neutralidade.
Rosiany não se conformava.
—Mas se o Lula ganhar...
--O que é que tem?
--Vai criar uma ditadura. Modelo venezuelano.
—Por mim, tudo bem.
--Mas como, papai? Você tem de votar no Bolsonaro para evitar isso.
--Ele não vai fazer ditadura também?
Rosiany ficou pensando.
—Ah, mas no caso dele é diferente... uma ditadura de direita é mais séria, mais decente.
O sr. Saboia fez cara séria.
—Rosiany, essa coisa de esquerda e de direita não faz mais sentido.
Ele voltava ao ponto inicial.
—O Brasil precisa produzir.
—Certo, papai... mas...
—Sabe o que impede a gente de trabalhar?
O próprio sr. Saboia tinha a resposta.
—As eleições. A política.
Ele colocou o 38 em cima da mesa.
—Acabando as eleições e fazendo ditadura, apoio qualquer candidato.
Rosiany ficou em silêncio.
--E quem quiser continuar a conversa leva bala.
Aos poucos, ele se acalmou.
—Fim de papo. Me passa a planilha dos custos de matéria prima.
—Aqui, papai.
—Acrescenta aí o preço da munição. E vamos tocar para a frente.
Rosiany não esconde a sua admiração.
—Ele é tão equilibrado... tão objetivo...
Serenidade e foco são importantes nesta hora.
O importante é não perder o alvo de vista.
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