Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

Voltaire de Souza - Voltaire de Souza
Voltaire de Souza

Canibalismo, sim

Na hora de falar de consumo de carne humana, bolsonaristas podem se queimar

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Denúncias. Vídeos. Acusações.

A campanha eleitoral foge do controle.

Com a palavra, os tribunais.

Associar Bolsonaro ao consumo de carne humana?

Pode ser um exagero.

O filmete foi vetado.

No gabinete do general Perácio, o assessor Guarany chegou com a notícia.

—Pelo menos essa a gente ganhou, não é, general?

Não era feliz o semblante do oficial superior.

—Deixa de dizer besteira, Guarany.

Perácio levantou-se lentamente da poltrona executiva.

—Mais uma vez, esses juízes perseguem a gente.

—Mas, general... dizer que o nosso presidente pratica o canibalismo...

O tapa desceu com peso de granito sobre os documentos estratégicos.

—Não se trata disso. Absolutamente.

Perácio respirou fundo.

—O que é que esses comunas vivem dizendo? Do quê nos acusam?

—Bom, general... muita coisa.

—Dizem que nós não respeitamos a cultura indígena. É ou não é?

—Verdade, general. Isto é, mentira, general.

—Pois bem. Agora que o nosso presidente faz essa declaração histórica...

—Declaração histórica?

—Que estava disposto a comer carne humana em respeito à cultura deles...

—A Justiça censura.

—Então, de que lado esses juízes estão?

Guarany ficou pensando.

—Bom, desse ponto de vista...

—Eu particularmente sempre respeitei a cultura dos índios.

—Verdade, general?

—Desde que sejam índios mesmo. Bem primitivos.

—Com tacape e tudo, general?

—Assim eles se matam entre eles. Foi sempre a tradição. Sem dar trabalho para a gente.

A tarde puxava um manto de chumbo sobre os céus do Planalto Central.

—Canibalismo. E daí? Vamos ficar com frescura agora?

—Aí nunca, né, general. Aliás, na Venezuela parece que é comum também...

O segundo tapa fez estrondo na mesa de jacarandá.

—Não ferra o argumento, Guarany. Não ferra.

Apesar do que dizem, o pensamento militar é capaz de inúmeras sutilezas.

O problema é que nem todos sabem quando ficar quietos.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.