Denúncias. Vídeos. Acusações.
A campanha eleitoral foge do controle.
Com a palavra, os tribunais.
Associar Bolsonaro ao consumo de carne humana?
Pode ser um exagero.
O filmete foi vetado.
No gabinete do general Perácio, o assessor Guarany chegou com a notícia.
—Pelo menos essa a gente ganhou, não é, general?
Não era feliz o semblante do oficial superior.
—Deixa de dizer besteira, Guarany.
Perácio levantou-se lentamente da poltrona executiva.
—Mais uma vez, esses juízes perseguem a gente.
—Mas, general... dizer que o nosso presidente pratica o canibalismo...
O tapa desceu com peso de granito sobre os documentos estratégicos.
—Não se trata disso. Absolutamente.
Perácio respirou fundo.
—O que é que esses comunas vivem dizendo? Do quê nos acusam?
—Bom, general... muita coisa.
—Dizem que nós não respeitamos a cultura indígena. É ou não é?
—Verdade, general. Isto é, mentira, general.
—Pois bem. Agora que o nosso presidente faz essa declaração histórica...
—Declaração histórica?
—Que estava disposto a comer carne humana em respeito à cultura deles...
—A Justiça censura.
—Então, de que lado esses juízes estão?
Guarany ficou pensando.
—Bom, desse ponto de vista...
—Eu particularmente sempre respeitei a cultura dos índios.
—Verdade, general?
—Desde que sejam índios mesmo. Bem primitivos.
—Com tacape e tudo, general?
—Assim eles se matam entre eles. Foi sempre a tradição. Sem dar trabalho para a gente.
A tarde puxava um manto de chumbo sobre os céus do Planalto Central.
—Canibalismo. E daí? Vamos ficar com frescura agora?
—Aí nunca, né, general. Aliás, na Venezuela parece que é comum também...
O segundo tapa fez estrondo na mesa de jacarandá.
—Não ferra o argumento, Guarany. Não ferra.
Apesar do que dizem, o pensamento militar é capaz de inúmeras sutilezas.
O problema é que nem todos sabem quando ficar quietos.
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