Pesquisas. Levantamentos. Previsões.
A disputa eleitoral prossegue.
Em seu gabinete, o general Perácio analisava as planilhas.
Seu assessor era o tenente Guarany.
—Puxa, general... preocupante, né?
—Como assim, tenente? Como assim?
O primeiro tapa na mesa atingiu uma pilha de papéis.
—Quem é brasileiro não acredita nessa mentirada, Guarany.
—Mas, general... em todo caso... seria bom ter um plano.
—Já temos, Guarany. Esqueceu do problema das urnas eletrônicas?
—Verdade, general... mas antes disso, não custava tentar outra coisa.
Perácio estava num dia de especial paciência e serenidade.
—Qual sua proposta, tenente?
Guarany engolia em seco.
—Vai falar ou tenho de dar mais porrada?
—Quem sabe, general... hahm...
Os olhos de aço do general esperaram Guarany criar coragem.
—Uma outra facada, não sei... será que...?
—Não seja ingênuo, Guarany. Precisaríamos de algo bem mais radical.
—Tiro, quem sabe?
Perácio contemplou o horizonte enfarruscado do Planalto.
—Um tiro, Guarany? Mas onde?
—Ué, na perna, no braço...
Um novo tapa vibrou novamente sobre a mesa de jacarandá.
—Não é disso que estou falando, idiota.
—Mas o senhor perguntou onde...
—Em que lugar do Brasil, tenente. Em que comício, em que cidade?
—Tem aquela favela... parece que o negócio é quente por lá.
—Qual, Guarany? A de Parasitópolis?
—Hã... acho que é Paraisópolis, general.
—Claro que não, Guarany. O nome é Parasitópolis.
—Tem certeza, general?
—Claro. Todo mundo lá vive de auxílio de governo.
—Então... uma visita do presidente ali...
—Com mais um tiro... podia até comprovar aquele em cima do Tarcísio.
Guarany recebeu instruções imediatas.
—Contata o Major Pompeu.
O responsável pelo Pelotão de Atiradores Agulhas Negras deu uma resposta frustrante.
—Aqui ninguém tem pontaria para isso não, Guarany.
Perácio resolveu engavetar o plano.
—Vai que um deles acerta onde não devia...
—Verdade, general. Seria muito antipatriótico.
Equipamentos militares são como certas pesquisas de opinião.
Por vezes, o resultado escapa da margem de erro.
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