Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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Transição delicada

Por vezes, medidas radicais exigem justamente que ninguém perca o eixo do centro

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Conhecimento. Perícia. Experiência.

Não é fácil da tarefa dos encarregados da transição.

—Nem muito à esquerda, nem muito à direita.

—Bem no centro.

—Mas cada um quer ir para um lado.

—Não podemos perder o eixo de referência.

—Correto.

—A operação é delicada.

—Mas não se pode contentar todo mundo...

—Haha, se fosse assim...

—A gente nem tentava, né.

—Mais equilíbrio, pessoal. E menos conversa.

—O que importa é se vai funcionar na prática.

—Afinal, não estamos lidando com teorias...

—Mas com gente de carne e osso.

—Olha, eu não quero discordar, mas...

—Mas o quê?

—Um mínimo de desmatamento é necessário.

—Pessoal, vamos ficar no básico. O resto é detalhe.

—Cuidar da infraestrutura.

—Claro, não se faz nada da noite para o dia...

—Mas em alguns meses a realidade vai ser outra.

—Mais alguns cortes?

—Com certeza. Quanto mais, melhor.

—Calma, pessoal. Sem tanto exagero.

—Claro que são necessárias medidas radicais...

—Mas sem perder o bom senso.

Fez-se um silêncio na sala fortemente iluminada.

—Acho que é isso, então, né?

—Um verdadeiro sucesso.

A enfermeira Cláudia pediu instruções.

—Posso levar o paciente para a sala de recuperação?

—O paciente? Não, não: A paciente.

—Verdade... leva um tempo para acostumar.

—Se chamava Orlando. Agora é Andreia.

Mais uma operação de mudança de sexo se completava no Hospital Santa Ismália.

Transições são sempre delicadas.

Mas o importante, como sempre, é não perder o rumo do centro.

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