Gregory Robinson, diretor da missão James Webb, é eleito Inovador do Ano pela Time

Telescópio espacial foi lançado no Natal de 2021 e teve a primeira imagem revelada ao público em julho de 2022

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São Carlos (SP)

Depois de coordenar o esforço que colocou no espaço o mais sofisticado telescópio já criado, o engenheiro americano Gregory Robinson, 63, decidiu que estava na hora de se aposentar.

"Não deixe a minha boa aparência enganar você: há anos que eu ando dizendo que já não sou mais tão jovem. Estou fechando a carreira com chave de ouro. Não há como ter um segundo ato da peça depois do Webb", brincou ele em entrevista ao portal de notícias da Universidade Columbia, onde foi professor nos últimos anos.

"O Webb" é o Telescópio Espacial James Webb, que a equipe liderada por Robinson lançou no Natal de 2021 e cuja primeira imagem foi revelada ao público em julho de 2022. Tudo indica que o pacote de novas tecnologias do aparelho vai trazer grandes avanços para o conhecimento sobre as origens do Universo e a possibilidade de vida em outros sistemas solares, razão pela qual a revista americana Time acaba de escolher Robinson como Inovador do Ano, além de incluí-lo na sua tradicional lista das 100 pessoas mais influentes do mundo.

Homem sentado em frente a uma mesa, apoia o braço esquerda sobre a mesa
Gregory Robinson, diretor do Programa do Telescópio Espacial James Webb - Shuran Huang - 11.jul.2022/The New York Times

Ele passou a chefiar o desenvolvimento do James Webb em 2018, quando alguém mais maldoso talvez pudesse definir o projeto como um dos abacaxis mais caros da história da exploração espacial. Naquela época, o lançamento do telescópio não só já estava mais de dez anos atrasado —a projeção inicial era que ele chegasse ao espaço em 2007— como também havia produzido um estouro astronômico de orçamento, de uma estimativa inicial de US$ 500 milhões para quase US$ 9 bilhões (o custo total acabaria ficando em US$ 10 bilhões).

O histórico batalhador e improvável de Robinson, no entanto, indicava que ele poderia estar à altura da tarefa. Nascido em Danville, cidade do estado da Virgínia que hoje soma menos de 50 mil habitantes, ele era o nono de 11 filhos de um casal de descendentes de escravizados. Seus pais cultivavam tabaco como meeiros —ou seja, dividiam a produção com os donos da terra onde plantavam.

O sistema, criado nos estados do sul dos EUA depois do fim da escravidão em 1865, era manipulado pela elite de latifundiários brancos para manter os meeiros constantemente endividados. Nos primeiros anos da infância de Robinson, a região também segregava estudantes negros e brancos em escolas diferentes —em geral, com muito menos recursos para os alunos de origem africana.

Apesar disso, ele conta que tanto seus pais quanto seus professores e os pastores da igreja que frequentava ressaltavam a importância da educação para que ele e seus colegas conseguissem um futuro melhor. "Desde que me entendo por gente, eu sempre gostei de ciência e matemática —as coisas que papai chamava de ‘fazer contas’. Queria sair de Danville", contou ele ao jornal The Washington Post.

O bom desempenho acadêmico e a facilidade para jogar futebol americano, na posição de "quarterback", abriram caminho para que ele conseguisse uma bolsa, no fim dos anos 1970, para estudar ciências exatas na Universidade da União da Virgínia, em Richmond. Depois, ele se transferiu para a Universidade Howard, onde cursou engenharia elétrica, além de obter um MBA (título de pós-graduação em gestão).

De início, ele conta que não sonhava trabalhar com projetos aeroespaciais. "O espaço estava fora do meu radar", declarou em entrevista à NPR, a rede pública de rádio dos EUA. Alguns colegas de faculdade, no entanto, começaram a conseguir estágios na Nasa, o que despertou seu interesse. Ele acabaria entrando no órgão em 1989. "Depois que você atravessa o portão e começa a trabalhar com isso, rapidamente o bichinho [da exploração espacial] morde você e nunca mais deixa de te morder", brinca.

Depois de gerenciar diversos projetos de alta complexidade, inclusive os voos dos ônibus espaciais, Robinson granjeou uma reputação de coordenador eficiente, interessado em simplificar a cultura de trabalho às vezes emperrada da Nasa, mas capaz de um relacionamento tranquilo com os membros de sua equipe. Depois que ele assumiu a chefia do projeto do novo telescópio espacial, os prazos para cada fase da iniciativa passaram a ser cumpridos em cerca de 90% dos casos, contra 55% antes de sua gestão, segundo a revista Time.

"Ele foi capaz de canalizar as forças da natureza humana e da criatividade. Nossa equipe gira em torno de Greg porque confiamos na capacidade dele de fazer perguntas, entender nossas preocupações e respeitar nossas opiniões. Ele faz tudo isso parecer fácil, mas mal consigo imaginar como ele consegue", declarou John Mather, astrofísico vencedor do Nobel e cientista-sênior do James Webb, em tributo ao colega.

"Conforme fomos chegando mais perto do lançamento, e mesmo na hora em que o telescópio foi lançado, eu nunca fiquei preocupado com o resultado da missão", diz o engenheiro. "Minha maior preocupação era: vamos logo com isso, vamos para o centro de lançamento para tirar esse negócio do chão."

A explosão de custos do aparelho teve a ver, em parte, com a necessidade de desenvolver tecnologias completamente novas para que o Webb cumprisse sua missão. Com uma capacidade única de examinar o espectro luminoso na faixa do infravermelho, o aparelho observará tanto galáxias e estrelas muito distantes, surgidas nos primórdios do Universo, quanto a composição química da atmosfera de planetas em outros sistemas solares, podendo estimar se eles são favoráveis ao surgimento da vida.

Robinson é casado —ele e sua esposa Cynthia tiveram três filhas. "A do meio não quer saber de nada que tenha a ver com matemática ou ciência. Mas os três filhos dela todos acham que vão ser a nova geração de exploradores do espaço. Estou muito ansioso para ver no que vai dar isso", declarou ele ao Washington Post.

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