Primeiro voo do Starship termina em explosão, mas é comemorado pela SpaceX

Voo da empresa de Elon Musk foi interrompido prematuramente no momento em que foguete seria separado em dois estágios

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São Paulo

O primeiro voo integrado do Starship, conduzido nesta quinta-feira (20), terminou em detonação prematura após uma escalada de 40 km até a alta atmosfera –o que foi celebrado pela SpaceX como um grande sucesso. Nunca um foguete tão grande (120 metros) e com tantos motores (33 só no primeiro estágio) havia sido lançado antes. O único objetivo declarado do voo era deixar a plataforma em Boca Chica, no Texas, Estados Unidos, de forma segura. Todo o resto era na base do "seria bom se também...".

O primeiro voo de teste estava previsto para a última segunda (17), mas foi adiado nos últimos minutos em razão de um problema de pressurização no estágio de propulsão. O CEO da SpaceX, Elon Musk, afirmou, no Twitter, que uma válvula de pressão parecia estar congelada.

A segunda tentativa, desta vez concretizada, não foi sem emoção. Primeiro, uma interrupção rápida da contagem na fase final, por causa das checagens no veículo, o que impediu a partida logo na abertura da janela de lançamento, às 10h28 (de Brasília) desta quinta. Com a retomada cinco minutos depois, restando apenas 40 segundos, veio a decolagem, e o veículo partiu, às 10h33, mas com alguns motores apagados.

Starship, foguete da SpaceX, já em voo durante teste nesta quinta (20). Momentos depois, foguete foi explodido
Starship, foguete da SpaceX, já em voo durante teste nesta quinta (20). Momentos depois, foguete foi explodido - Patrick T.Fallon/AFP

Isso não impediu, contudo, a ascensão normal e uma escalada até cerca de 40 km de altitude, superando inclusive o momento de máxima pressão aerodinâmica sobre o foguete. As coisas começaram a pegar um caminho incontornável na manobra que antecede a separação do segundo estágio. Após capotar algumas vezes, descontrolado, o veículo sofreu uma detonação em pleno ar –o que os engenheiros da empresa costumam chamar pela eufemística sigla RUD, ou "rapid unscheduled disassembly" (desmontagem rápida não programada).

Não é uma grande perda para a SpaceX, que já planejava não recuperar ambos os estágios. Na melhor das hipóteses, o primeiro faria um pouso vertical no golfo do México e o segundo mergulharia de barriga no oceano Pacífico, próximo ao Havaí. Mas essas etapas terão de ficar para uma próxima missão.

Seguindo sua metodologia de produção rápida de protótipos e priorização de testes em voo, a companhia já tem elementos fabricados para os próximos cinco primeiros estágios (denominados Super Heavy) e para os oito próximos Starships (a espaçonave em si, o segundo estágio).

Os dados de telemetria serão analisados cuidadosamente, para que a próxima tentativa possa ser ainda mais bem-sucedida. "Aprendemos muito para o próximo lançamento de teste em uns poucos meses", disse Musk após o voo.

Considerando a forma como a SpaceX desenvolve as coisas, é mais um dia na vida da Starbase, instalação da empresa em Boca Chica. E um dia muito especial, que viu celebrações efusivas de seus técnicos e engenheiros a cada etapa superada da contagem regressiva e do voo.

"O sucesso vem do que aprendemos, e o teste de hoje irá nos ajudar a melhorar a confiabilidade do Starship conforme a SpaceX busca tornar a vida multiplanetária. Parabéns a toda a equipe num empolgante primeiro voo-teste integrado do Starship!", escreveu a empresa no Twitter, com a grandiloquência de quem ambiciona a colonização de Marte.

A Nasa, contudo, espera apenas que o veículo, escalado pela agência para realizar o primeiro pouso de astronautas na Lua no século 21 com a missão Artemis 3 (atualmente marcada, de forma pouco realista, para o fim de 2025), esteja à altura da tarefa. O sucesso parcial no lançamento traz razões para otimismo, mas também enfatiza a enormidade de coisas que precisam acontecer antes que a alunissagem tripulada se torne possível.

A fim de realizar a viagem lunar a SpaceX precisará demonstrar não só a capacidade orbital plena do Starship, como a viabilidade de reabastecê-lo em órbita (algo que nunca foi feito com um foguete antes) e pousá-lo com sucesso na superfície da Lua (não é trivial fazer um foguete de 50 metros descer suavemente sobre terreno irregular).

Colaborou Samuel Fernandes

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