Descrição de chapéu África

Pegadas, experimento com fusão nuclear e IA marcam a ciência em 2023

Folha destaca oito avanços mencionados por Nature e Science em listas de destaques deste ano

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São Paulo

Importantes avanços científicos marcaram 2023. Alguns deles têm impacto imediato, como a nova geração de medicamentos para tratar obesidade, a vacina contra a malária e o uso da inteligência artificial por cientistas. Outros podem gerar repercussões futuramente, a exemplo da fusão nuclear para a produção de energia limpa, uma nova combinação de drogas contra câncer.

Esses passos constam das listas de principais avanços neste ano que Nature e Science, duas das principais publicações científicas, divulgaram neste mês.

Abaixo, a reportagem reúne oito delas.

Ténicos utilizam elevador para acessar o interior de câmara no Laboratório Nacional Lawrence Livermore, na Califórnia, para serviços de inspeção e manutenção - Philip Saltonstall/Lawrence Livermore National Laboratory/AFP

Camundongos machos dando origem a óvulo

Katsuhiko Hayashi e a sua equipe conseguiram gerar filhotes de camundongo a partir das células de dois pais machos.

Ser capaz de, a partir de células de camundongos machos, produzir óvulos, era algo que inúmeros cientistas achavam ser impossível ou quase impossível, diz a revista Nature, que classificou Hayashi como um dos principais nomes de 2023.

Os cientistas pegaram células das caudas de camundongos machos (que têm cromossomos sexuais X e Y) e depois converteram elas em células-tronco. Segundo texto da revista Nature, esse processo gerou uma perda espontânea do cromossomo Y em cerca de 3% das células.

O passo seguinte foi isolar as células sem cromossomo Y e fazer um tratamento para causar erros de divisão celular. Alguns dos erros geraram células com cromossomos X duplicados, ou seja, células femininas. Em seguida, seguiram para criar um óvulo.

ChatGPT

Pela primeira vez na história, a Nature incluiu um não humano em sua lista anual de personalidades na ciência. Segundo a revista, o ChatGPT —que alcançou projeção de uso este ano— já está transformando o modo como pesquisadores conduzem e disseminam pesquisas.

A revista diz que a IA (inteligência artificial) está sendo usada como um assistente indispensável para os pesquisadores, ajudando em textos e códigos.

Richard Monastersky, um dos editores da Nature, escreveu que a IA já influencia a ciência e a sociedade.

Com a explosão do ChatGPT, que foi desenvolvido pela OpenAI, o Google também disponibilizou sua própria inteligência artificial, o Bard.

Além da produção de textos, com o passar do último ano, as inteligências artificiais ganharam destaque pela produção de imagens a partir de pedidos em texto.

Fusão Nuclear

Em 2022, o Laboratório Nacional Lawrence Livermore, na Califórnia, Estados Unidos, conseguiu gerar mais energia do que consumir —para conseguir fundir dois núcleos de hidrogênio. Após fazer isso pela primeira vez, era importante fazer de novo.

A fusão —diferente da fissão, usada em usinas nucleares, na qual dois átomos são chocados para que se "quebrem"— só pode ocorrer quando as partículas envolvidas estão sob temperaturas muito elevadas e alta pressão. Criar essas condições envolve grandes quantidades de energia.

A equipe, ao tentar repetir o feito em junho, acabou falhando. Em 30 de julho, a nova tentativa deu certo. Duas outras repetições foram bem-sucedidas em outubro —dessa forma, foram quatro sucessos em seis tentativas.

Caso a fusão consiga ser controlada e seja bem-sucedida, há potencial para geração de enormes quantidades de energia limpa.

A fusão nuclear foi citada pela lista anual da revista Nature.

Fontes naturais de hidrogênio

Espera-se que hidrogênio seja um combustível essencial para o futuro e próximos anos. Basicamente, o hidrogênio não gera CO2, um dos gases que causam efeito estufa quando é usado como combustível.

A maior parte do hidrogênio hoje é gerada por processos com emissões de gases. Por isso, podem ser importantes os depósitos naturais do chamado hidrogênio natural, hidrogênio dourado ou hidrogênio branco.

Neste ano, na Bacia de Lorraine, no nordeste de França, uma equipe descobriu um grande depósito de hidrogênio.

Pegadas indicam presença humana nas Américas na última Era do Gelo

Em 2021, cientistas publicaram na revista Science que haviam encontrado pegadas humanas, no Parque Nacional de White Sands, no Novo México, que teriam de 23 mil a 21 mil anos. Usualmente se fala em humanos na América de 16 mil a 13 mil anos atrás.

À época, houve controvérsia em relação à descoberta.

Neste ano, um novo estudo, com novas formas de datação, confirmou o achado inicial.

Tratamento para obesidade

Em 2023 os nomes Ozempic e Wegovy ganharam espaço e popularidade. São medicamentos que, de fato, ajudam pacientes na perda de peso.

O Ozempic é uma droga usada no tratamento da diabetes tipo dois, mas que atua contra a obesidade e era usado de forma "off-label" (quando um remédio é receitado para indicações que não constam de sua bula). Já o Wegovy é destinado diretamente para obesidade.

Em janeiro deste ano, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou o Wegovy, a primeira droga injetável de uso semanal para sobrepeso e obesidade.

Uma outra droga, o Mounjaro também já foi aprovado pela Anvisa para o tratamento de diabetes tipo dois, porém o medicamente também é usado de forma "off-label" para perda de peso.

A semaglutida é um análogo do hormônio GLP-1. A proteína sintética consegue reduzir a quantidade de açúcar no sangue e informar ao cérebro que o usuário já está satisfeito e sem fome.

A Science apontou o desenvolvimento do GLP-1 como a descoberta do ano. Segunda a revista, os resultados dos estudos são impressionantes. A Nature também citou o GLP-1, destacando o papel de Svetlana Mojsov, responsável pelos estudos iniciais da proteína sintética.

Sobrevida a pessoas com câncer de bexiga

Outro nome mencionado pela Nature foi o de Thomas Powles, que conseguiu uma nova combinação de drogas que, em comparação com a quimioterapia, aumentou o tempo médio de sobrevida de pacientes com câncer de bexiga de cerca de 16 meses para 2,5 anos.

O estudo de Powles é baseado em conjugados anticorpo-fármaco. O cientista testou contra câncer de bexiga a combinação de enfortumabe vedotina, que mira nectina-4, proteína abundante em células de câncer de bexiga, com o imunoterápico, pembrolizumabe.

Vacina contra malária

As vacinas contra malária também foram citadas pela Nature, por meio de Halidou Tinto, responsável por um centro de pesquisa, em Burkina Fasso, onde os imunizantes foram testados.

Em 2023, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomendou a segunda vacina contra malária. A primeira foi recomendada em 2021.

Segundo a Nature, no continente africano, anualmente há 200 milhões de casos e 500 mil mortes relacionadas à malária, especialmente entre crianças com menos de cinco anos. A malária está também presente no Brasil e, em 2022, contabilizou-se cerca de 123 mil casos.

O centro de pesquisa tocado por Tinto foi importante para a primeira aprovação da vacina contra malária na África. Em 2019, foi Tinto que conduziu um estudo inicial importante para a vacina mais recentemente recomendado pela OMS.

Tinto está envolvido em mais de 30 testes clínicos, entre os quais os de novas vacinas contra a malária.

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