Lua de Saturno abriga oceano propício ao surgimento de vida

Mimas se junta ao pequeno grupo de satélites que contêm água sob sua camada de gelo

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Juliette Collen
AFP

Os astrônomos a comparam à Estrela da Morte de "Star Wars", porém Mimas, uma pequena lua de Saturno, abriga sob sua superfície gelada um oceano propício ao surgimento de vida, de acordo com estudo publicado nesta quarta-feira (7).

Mimas se junta assim à família de raras luas do Sistema Solar que contêm água líquida embaixo de sua camada de gelo: Europa e Ganimedes, de Júpiter; Encélado e Titã, de Saturno.

"Se há algum lugar no Universo onde não esperávamos encontrar condições favoráveis para a vida, esse lugar é Mimas", afirmou em entrevista coletiva Valéry Lainey, principal autor do estudo publicado na Nature.

Ilustração de Mimas, lua de Saturno que tem um oceano sob uma camada de gelo - Frederic Durillon/Animea Studio/Observatoire de Paris - PSL/IMCCE/AFP

O satélite do planeta dos anéis, descoberto em 1789 pelo astrônomo William Herschel, não tinha "a aparência certa", segundo o astrônomo do Instituto de Mecânica Celeste e Cálculo de Efemérides (IMCCE) do Observatório de Paris - PSL.

O corpo celeste, com apenas 400 quilômetros de diâmetro, recebeu o apelido de lua da morte porque parecia frio, inerte e, portanto, desabitado.

Isso se devia à sua superfície cheia de crateras, incluindo uma imensa que lhe dava uma ar semelhante à Estrela da Morte, a estação do Império na saga "Star Wars".

Sua casca de gelo parecia estar congelada, sem sinal de atividade geológica interna que pudesse modificá-la. Em contraste, a superfície lisa de sua irmã maior, Encélado, é regularmente remodelada pela atividade de seu oceano interno e seus gêiseres.

Os cientistas tinham a intuição de que "algo estava acontecendo dentro" de Mimas, disse Lainey. Eles estudaram a rotação da lua em torno de si mesma e suas pequenas oscilações, chamadas librações, que podem variar de acordo com a estrutura interna do astro.

Um oceano jovem

Seus primeiros trabalhos, publicados em 2014, não conseguiram demonstrar a existência de um oceano líquido. A maioria dos pesquisadores tendia a acreditar na existência de um núcleo rochoso.

"Poderíamos ter deixado as coisas assim, mas estávamos frustrados", contou Lainey.

Sua equipe compilou dezenas de imagens feitas pela sonda Cassini da Nasa (2004-2017) para ampliar sua pesquisa para todo o sistema de Saturno e 19 de suas luas.

Esses dados permitiram analisar o movimento orbital de Mimas ao redor de Saturno e como isso afeta suas librações. A detecção de variações ínfimas nessas librações, da ordem de centenas de metros, denunciou a presença de um oceano líquido sob toda a superfície.

"É a única conclusão viável", destacaram Matija Cuk, do Instituto SETI de busca de inteligência extraterrestre, na Califórnia, e Alyssa Rose Rhoden, do Instituto de Pesquisa do Sudoeste, do Colorado, em um comentário anexado aos trabalhos da Nature.

O oceano se move sob uma camada de gelo de 20 a 30 quilômetros de espessura, comparável à de Encélado, descreve o estudo. Surgiu sob a influência da gravidade de outras luas de Saturno: são "efeitos de maré" que agitam o astro e geram calor, impedindo que seu oceano congele.

Os cálculos sugerem um mar formado recentemente, há apenas entre 5 e 15 milhões de anos, o que explicaria por que ainda não foi detectado nenhum sinal geológico de sua existência na superfície.

A lua "reúne todas as condições para a habitabilidade: água líquida, mantida por uma fonte de calor, em contato com rocha, o que favorece o desenvolvimento de trocas químicas" indispensáveis para a vida, resumiu Nicolas Rambaux, do IMCCE, um dos autores.

Mimas poderia abrigar formas de vida primitiva, como bactérias ou arqueas? "A questão será abordada nas missões espaciais nas décadas que estão por vir", disse Lainey.

"Uma coisa é certa: se a busca é por condições mais recentes de habitabilidade no Sistema Solar, é para Mimas que se deve olhar", afirmou o astrônomo.

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