Todas as orcas são classificadas como uma única espécie, mas talvez não seja bem assim

Novo estudo sugere que duas populações são diferentes o suficiente para serem consideradas grupos distintos

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Emily Anthes
The New York Times

As orcas são algumas das criaturas mais cosmopolitas do planeta, nadando por todos os oceanos do mundo. Elas aparecem nas águas geladas próximas aos polos e às vezes surgem nos trópicos, em locais que vão do oeste da África ao Havaí.

Embora seus habitats e hábitos variem amplamente, todas as orcas são consideradas parte de uma única espécie: Orcinus orca —apesar de também ser chamada de baleia-assassina, ela faz parte de uma família de golfinhos.

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Orca em águas próximas ao estado de Washington, nos EUA - Louise Johns/The New York Times

Agora, os cientistas se basearam em décadas de pesquisa para sugerir que duas populações de orcas observadas com frequência na costa do Pacífico dos Estados Unidos e do Canadá são na verdade tão diferentes entre si —e de outras orcas— que deveriam ser consideradas espécies distintas.

Em um artigo publicado na revista Royal Society Open Science na última terça (26), os cientistas propuseram dar novas designações de espécies a dois grupos: orca residente e orca Bigg. Embora ambos vivam no leste do Pacífico Norte, eles têm dietas diferentes: a residente come peixes, com uma predileção por salmão, e a Bigg caça animais como focas e leões-marinhos.

A proposta apresenta outras diferenças comportamentais, físicas e genéticas entre as duas populações de orcas, que têm evoluído separadamente uma da outra por centenas de milhares de anos.

"Eles não estão apenas se comportando de maneira diferente, eles estão em trajetórias evolutivas que consideramos ser de espécies diferentes", afirmou Phillip Morin, geneticista do Centro de Ciências de Pesca do Sudoeste da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês) e autor do estudo.

Não há uma definição única para o que qualifica uma espécie, e as fronteiras entre as populações de animais são frequentemente difusas. Mas esses tipos de distinções taxonômicas podem ter implicações para a conservação, segundo os cientistas, permitindo que especialistas tomem decisões mais informadas sobre como gerenciar diferentes populações de orcas.

"Elas enfrentam ameaças diferentes", disse John K. Ford, especialista em orcas e cientista emérito da Pesca e Oceanos do Canadá que não participou do novo artigo.

Nas últimas décadas, por exemplo, o aumento dos números de focas e leões-marinhos tem ajudado a impulsionar um boom populacional das orcas Bigg, de acordo com Ford. Por outro lado, as residentes se veem ameaçadas pela diminuição dos estoques de salmão selvagem.

Para Ford, os autores do novo artigo apresentaram um argumento muito forte, reunindo um crescente corpo de evidências de que as residentes e as Bigg são criaturas diferentes.

É uma evidência muito convincente para sugerir que elas representam espécies diferentes

Kim Parsons

geneticista e autora do estudo

O próximo passo será submeter a proposta a um comitê de especialistas em taxonomia da Sociedade para a Mastozoologia Marinha, que mantém a lista mais autoritativa de espécies, segundo Morin.

Nos últimos anos, avanços científicos permitiram que cientistas realizassem análises mais sofisticadas dos genomas das orcas. Os dados sugerem que as Bigg se ramificaram de outras orcas entre 200 mil e 300 mil anos atrás. As residentes, por sua vez, divergiram de outras orcas cerca de 100 mil anos atrás. Análises genéticas e comportamentais também sugerem que houve pouco cruzamento entre as Bigg e as residentes nos últimos anos.

"É uma evidência muito convincente para sugerir que elas representam espécies diferentes", disse Kim Parsons, geneticista no Centro de Ciências de Pesca do Noroeste do NOAA e autora do estudo.

No geral, os genomas eram diferentes o suficiente para que os cientistas pudessem prever, com alta precisão, se uma orca era uma Bigg ou uma residente com base apenas em seu DNA.

A forma do crânio é igualmente preditiva. As Bigg têm crânios maiores e mais largos, com mandíbulas mais profundamente curvadas, do que as residentes —características que podem ajudá-las a lidar com suas presas maiores.

As Bigg também são ligeiramente maiores que as residentes em geral, com barbatanas dorsais mais largas, pontiagudas e padrões de manchas pretas e brancas diferentes.

Há também diferenças comportamentais. As residentes vivem em grupos grandes e estáveis e são conhecidas por serem tagarelas, comunicando-se enquanto perseguem peixes. As Bigg, por outro lado, vivem em grupos menores e caçam em silêncio. Quando vocalizam, seus assobios soam diferentes dos das residentes.

Os autores do artigo propuseram dar às orcas residentes o nome científico Orcinus ater. Se a Sociedade para a Mastozoologia Marinha aceitar a proposta, os cientistas disseram que planejavam consultar grupos indígenas no Noroeste do Pacífico para selecionar um novo nome comum que reflita a importância cultural das orcas.

Os cientistas sugeriram que as Bigg mantenham esse nome comum, que homenageia Michael Bigg, um pesquisador influente de orcas, mas recebam o novo nome científico Orcinus rectipinnus.

Análises adicionais podem revelar outras populações de orcas que se qualificam como espécies distintas. "Há tanta diversidade nos oceanos que não conhecemos", disse Morin. "Mesmo com animais do tamanho de um ônibus escolar."

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