Adriana Fernandes

Jornalista em Brasília, onde acompanha os principais acontecimentos econômicos e políticos há mais de 25 anos

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Por que a melhora do mercado de trabalho renovou a pressão sobre o BC?

Se todo o mundo entendeu de um jeito, a culpa não é de quem leu, mas de quem escreveu

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O mercado de trabalho aquecido com números positivos para a economia brasileira renovou a pressão política contra o Banco Central.

O assunto promete manchetes chamativas daqui para a frente.

É o tema do momento em Brasília. Prato cheio para os críticos que passaram a explorar a narrativa de que o BC estaria se aproveitando de um dado positivo da economia para aumentar os juros.

O mais recente torpedo partiu do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que mandou o Banco Central estudar melhor os fundamentos da economia e acrescentou que aumentar juros é uma forma burra de controlar a inflação.

Ministro do Trabalho, Luiz Marinho. - BRASÍLIA, DF - 04.03.2024: (Foto: Ton Molina /Fotoarena/Folhapress)

Seguindo o padrão das críticas, o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) puxou a fila ao postar nas redes sociais que o BC bota a culpa dos juros altos no aumento do emprego e da renda.

"É explícito que Campos Neto não quer que o Brasil cresça! Ou seja, pra Campos Neto, a taxa de juros tem que subir porque o salário subiu!", escreveu o petista.

O que poucos perceberam é que, nas críticas, passaram a falsa ideia de que o BC estaria aumentando os juros, o que definitivamente não é o caso.

Mais comedido, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse que espera que o BC não se assuste com o número de empregos gerados no Brasil.

A preocupação com o possível efeito inflacionário dos salários mais altos provenientes da melhora do emprego já vinha sendo apontada pelo BC.

Mas ganhou força após o Copom cortar a Selic em 0,5 ponto percentual para 10,75% e escrever, num dos parágrafos da ata da reunião, que membros do Comitê demonstraram maior preocupação com "possíveis efeitos da ampliação de ganhos reais no período mais recente e da aceleração de crescimento observada nos dados referentes à massa salarial sobre a dinâmica prospectiva da inflação de serviços".

O parágrafo gerou o gatilho para essa nova onda de críticas. O temor nos gabinetes do governo Lula e dos parlamentares aliados é que o Copom reduza o ritmo de queda da taxa Selic ou encurte o que o mercado financeiro chama de taxa terminal dos juros do atual ciclo de afrouxamento monetário. Ou seja, até onde os juros vão cair.

A essa preocupação soma-se a decisão do BC de mudar a sinalização da sua comunicação para os futuros cortes e garantir o ritmo de queda de 0,5 ponto percentual somente até a próxima reunião. No comunicado anterior, o que estava escrito era "próximas reuniões".

Existem setores que vão bater sempre para colocar fervura e pressão no BC. Faz parte do jogo político.

A despeito da preocupação legítima com o impacto dos juros no crescimento, porém, as críticas, ao menos dentro do governo, deveriam se dar sobre um patamar de mais alto nível, concentrando também esforços para aprovar medidas para permitir o aumento da produtividade do trabalho no país. Agenda sobre a qual o ministro Marinho deveria estar 100% debruçado.

A pressão dos críticos tem alvo também nos diretores do BC que foram indicados pelo presidente Lula. O tom gerou a interpretação de que teria uma divisão potencial entre alguns membros do Copom diante da ampliação das incertezas.

Ponto que ignora o fato de que houve consenso entre os integrantes do Copom na avaliação de que seria um equívoco interpretar a mudança na comunicação como uma alteração do plano de voo do BC para o juro terminal.

Se esse ponto de consenso foi colocado pelos diretores do BC, o mais prudente seria fazer ajustes na comunicação e arrumar o que estaria, então, sendo mal interpretado na ata.

O próprio BC diz na ata que continuará acompanhando os dados com profundidade, dada a dificuldade de uma "conclusão assertiva" sobre as defasagens entre o mercado de trabalho e a atividade econômica.

Se todo o mundo entendeu de um jeito, a culpa não é de quem leu, mas de quem escreveu.

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