De Grão em Grão

Como cuidar do seu dinheiro, poupar e planejar o futuro

De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato

Três fatores devem direcionar a forma como um idoso investe

O risco não está em um idoso investir para o longo prazo, mas em ele deixar de fazer

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Usualmente quando eu escrevo sobre algum tipo de investimento de risco ou de longo prazo, aparecem comentários ou críticas dizendo que não seria indicado para idosos. Minha melhor resposta seria: talvez não para você que comentou. De fato, ficaria muito feliz se alguma criança também criticasse que não seria para as crianças. A resposta também seria a mesma. Ficaria feliz com o comentário de uma criança, pois saberia que estou atingindo este público também. Então, como saber se investir para o longo prazo é para você?

O risco não está em um idoso investir para o longo prazo, mas em ele deixar de fazer - Brendan McDermid/Reuters

Primeiro, deixa eu fazer uma ressalva. Adoro quando vocês me criticam. Lógico que adoro ainda mais quando me elogiam.

Mas, como todo professor, não me sinto realizado quando saio de uma aula e a sala ficou em silêncio. Essa é a pior crítica. Então, comentem, critiquem, sugiram e perguntem, pois sugestões, perguntas e críticas são usadas em textos futuros como este. Mas, também, elogiem quando for devido.

Vamos voltar ao tema.

Sim, na média, um idoso deveria ter menos risco e ter aplicações com prazo previsíveis. Mas, o termo prazo previsível não quer dizer curto prazo. Também, não é possível dar uma fórmula única.

Alguns idosos podem ter aplicações de risco e de prazos até maiores que a extensão de suas vidas. Estes, por terem recursos além do que vão gastar, podem pensar em sucessão. Ou seja, parte dos recursos serão herdados por jovens que hoje talvez tenham 30 anos de idade.

Portanto, é como se esse jovem estivesse investindo um recurso que será dele em 30 ou 50 anos à frente. Logo, para esta parcela que já está planejada para sucessão, o importante é crescimento de capital.

De fato, alguns dos que criticam aplicações de renda fixa de longo prazo para idoso, incoerentemente, também recomendam a compra de imóveis. Algo que parece incoerente, pois imóvel é mais arriscado, de mais longo prazo e tem sucessão mais difícil que aplicações de renda fixa. Sei desta incoerência, pois além de comentarem nos textos já me escreveram sobre seus investimentos.

Repito, não existe uma forma única que todos os idosos deveriam seguir. Também, é preciso tomar cuidado com o conceito do que é ser um idoso. Qual seria a idade a considerar?

Me recordo de que quando eu tinha 25 anos, eu achava que alguém com 55 já era um idoso. Hoje, com 50, eu tenho certeza de que eu estava errado. Mas, este conceito de idade não é o mais relevante.

O que é realmente importante são três fatores. Eles determinam como uma pessoa qualquer deveria pensar suas aplicações, inclusive um idoso.

O primeiro fator está relacionado a sua capacidade de geração de fluxos de caixa positivos. Uma pessoa mais nova, usualmente, tem grande capacidade de geração de fluxos de caixa futuros. Ela pode investir para longo prazo, pois pouco do que ela tem investido hoje será consumida nos próximos anos. Seus rendimentos do trabalho devem servir para cobrir todas suas despesas por muitos anos no futuro.

À medida que envelhecemos, essa perspectiva de geração de fluxos pelo trabalho diminui e se eleva a perspectiva de uso da renda das aplicações. Portanto, é importante ter um melhor planejamento dos prazos de aplicação.

Entretanto, não se pode exagerar e ter 100% dos recursos em aplicações de curto prazo. Lembre-se que todos, principalmente aqueles que dependem da renda de investimentos, precisam ter um planejamento de quanto vão retirar em cada ano.

Por exemplo, mesmo para um indivíduo de 70 anos, faz sentido ter parte dos recursos, por exemplo, 5%, em aplicações de 20 anos.

Segundo levantamento do IBGE, indivíduos com 70 anos, na média vivem mais 16 anos. Reforço, na média. Isso significa que há grandes chances deste indivíduo superar esta média e viver mais. Portanto, se você tem 70 anos é recomendável contar que vai precisar de recursos até os 90 anos, pelo menos.

Sem dúvida, quando falo em investir para longo prazo, não significa correr mais risco de Bolsa. Me refiro a ter renda fixa com juros travados de forma que te permitam planejar qual renda você pode contar dentro de 20 anos.

Afinal, se você tem 70 anos, e não está planejando hoje qual a renda poderá contar aos 85 anos, você está jogando com a sorte, ou seja, está correndo muito risco por não planejar.

Portanto, o risco não reside em você investir para longo prazo, mas, talvez, em você deixar de fazer isso.

O outro fator que determina como qualquer um deve investir está relacionado ao perfil de investidor. Aquele que tem perfil mais conservador, independentemente de sua idade, ou da capacidade de geração de fluxos futuros, deve evitar aplicações mais arriscadas ou pelo menos ter proporções pequenas delas.

Normalmente, quando ficamos mais velhos, vamos perdendo nosso apetite a risco. Lembro de investimentos que já fiz no passado que hoje com 50 anos eu não repetiria, pelo mesmo não na mesma proporção que já fiz.

O fator perfil de investidor deve se alinhar e estar subordinado ao fator anterior de capacidade de geração de caixa do trabalho. Este último deve dominar o primeiro. Isso quer dizer que se sua capacidade de geração futura de caixa por meio de trabalho é baixa, mesmo que tenha perfil mais agressivo, ainda assim deve restringir o risco.

Entretanto, volto a reforçar. Travar rendimentos por longo prazo em renda fixa corrigida pelo IPCA e ser capaz de planejar o que pode usar em cada ano futuro é correr menos risco e ter atitude mais conservadora.

Por fim, um terceiro fator é o cenário macroeconômico. Não faz sentido investir para longo prazo em renda fixa prefixada ou referenciada ao IPCA quando o cenário é de alta de taxa de juros, assim como também é arriscado manter todos os recursos no curto prazo quando o cenário é de queda de juros.

Vou juntar os três fatores em um exemplo a seguir.

Considere o cenário atual de queda de taxa de juros e um idoso, conservador, sem rendimentos de trabalho e com 80 anos. Segundo o IBGE, ele tem expectativa de vida de mais 10 anos. Lembro novamente, expectativa é uma média.

Esse investidor deveria pensar seriamente em travar sua carteira em títulos de renda fixa referenciados ao IPCA com vencimentos escalonados no tempo até pelo menos 10 anos à frente.

Para muitos, essa atitude do exemplo de um indivíduo de 80 anos investir 10% de seu capital em renda fixa referenciada ao IPCA com 10 anos de vencimento, 10% com 9 anos de vencimento, 10% para 8 anos, e assim sucessivamente parece quase impensável e muito arriscada.

Entretanto, ela seria a atitude mais conservadora. Fazendo isso, ele já conseguiria planejar tudo com o que poderia contar nos próximos anos. E se aproveitaria do cenário travando os rendimentos hoje com juros maiores.

Assim, cuidado ao generalizar que idoso não pode investir em títulos com prazo maior que 2 anos. O maior risco pode ser deixar para o destino decidir se no futuro, as taxas de juros serão favoráveis como hoje para você ter bons rendimentos.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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