Alexandre Schneider

Pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia em Nova York, pesquisador do Centro de Economia e Política do Setor Público da FGV/SP e ex-secretário municipal de Educação de São Paulo.

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Alexandre Schneider
Descrição de chapéu Coronavírus

Escolha não pode ser entre saúde e educação

Nesta crise, não basta fazer o certo; é preciso comunicar obsessivamente

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Em meio à devastadora marca de mais de 100 mil mortos pela Covid-19, quando e como voltar às aulas presenciais seguem sendo os principais temas a mobilizar pais, estudantes, gestores públicos e privados. Afinal, quando estaremos prontos?

A resposta exige inicialmente que sejamos capazes de responder a três questões propostas pela Organização Mundial de Saúde e no “Manual sobre biossegurança para reabertura das escolas no contexto da Covid-19” da Fundação Oswaldo Cruz —uma organização pública que é um patrimônio nacional.

A Covid-19 está controlada no território? O sistema de saúde tem condições de responder ao aumento de casos? O sistema de vigilância em saúde pode identificar a maioria dos casos e os seus contatos?

Se a resposta for positiva para as três questões, é preciso então cuidar dos protocolos de saúde nas escolas, o que envolve cuidados sanitários em áreas de uso coletivo, medidas de distanciamento social, o uso de equipamentos de proteção individual por alunos e profissionais da educação, a ligação direta com uma unidade de saúde próxima e uma política de comunicação com os pais e responsáveis sobre as medidas adotadas para garantir a segurança de seus filhos e como proceder em caso de suspeita de contaminação de alguém da família.

Hoje há uma disputa. Os sindicatos alegam que as escolas não têm condição estrutural para voltar com segurança e defendem que as aulas não sejam reiniciadas enquanto não houver a vacina. Já os governos dizem que tudo estará seguro até o reinício das aulas. No meio disso tudo, pais, professores e alunos com receio e dúvida em quem acreditar. Qual o melhor remédio?

Em uma crise como essa não basta fazer o certo. É preciso comunicar obsessivamente.

Aos governos cabe dar transparência à real situação das escolas, um raio-X de suas condições de infraestrutura e das medidas a serem tomadas em caso de inadequação. É preciso comprovação de que eventuais problemas foram superados antes do reinício das aulas. O mesmo vale para as escolas particulares.

Os pais e responsáveis devem exigir das escolas públicas e privadas clareza dos protocolos de segurança sanitária e das condições de infraestrutura, seja por intermédio de visitas guiadas ou por relatórios.

Todos precisamos ter consciência que, em casa, a responsabilidade é das famílias. Estas devem preservar a sua saúde e a saúde dos outros adotando o comportamento adequado. Já na escola, a situação muda. As famílias não são responsáveis pela segurança do ambiente escolar. Assim, exigir um termo de responsabilidade dos pais por enviar seu filho à escola —como algumas escolas propõem—, além de demonstrar insegurança é um sinal de que a escola está procurando se eximir de sua responsabilidade.

O ideal é que, garantidas as questões de segurança, os estudantes voltem às aulas, com exceção daqueles que fazem parte ou morem com alguém que faça parte do grupo de risco. Nesses casos, as escolas devem avisar aos pais previamente quais são as exceções e garantir uma proposta individualizada de aprendizagem dos alunos.

Nesse período em que as escolas estão fechadas é importante que sejam realizadas pesquisas com a comunidade escolar. Além de tomar decisões baseadas em evidências científicas, é preciso compreender o medo que professores, pais e estudantes têm de retornar às aulas e ganhar sua confiança com transparência e comunicação constantes.

Ouvir de forma ativa quem “vive a escola” melhora as políticas educacionais, coloca todos no mesmo barco, fortalece vínculos, permite a construção de uma resiliência coletiva que nos ajudará a ultrapassar os momentos difíceis que vem pela frente, mesmo após a descoberta de uma vacina que nos imunize a todos.

Os direitos à saúde e à educação não são concorrentes e não se subordinam. Cabe a todos nós garanti-los.

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