Alexandre Schneider

Pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia em Nova York, pesquisador do Centro de Economia e Política do Setor Público da FGV/SP e ex-secretário municipal de Educação de São Paulo.

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Nenhum estudante vai perder o ano

Caminho para o ano letivo deve ser de flexibilidade e de comunicação

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“Vemos você, ouvimos você, e acreditamos que a política final que estamos emitindo enfatiza a flexibilidade e a paciência para os estudantes nesses tempos sem precedentes, além de manter os estudantes envolvidos sem penalidade pelo trauma que possam estar enfrentando.”

Na última sexta-feira (1º), o secretário de Educação de Nova York comunicou aos pais e estudantes a nova política de avaliação da rede pública da cidade. A rede tem 1,1 milhão de alunos, com o tamanho e a heterogeneidade da rede municipal de São Paulo, a maior do Brasil.

Um dos epicentros da pandemia da Covid-19, a cidade de Nova York, seus professores, estudantes e pais foram —como em todos os países do mundo— obrigados abruptamente a adotar o isolamento e estratégias de ensino remoto. A prefeitura definiu diretrizes gerais, se ocupou do monitoramento e deu autonomia às escolas para que organizassem a melhor estratégia de acordo com sua realidade.

Com uma comunicação constante entre a secretaria de Educação, escolas e pais, foi possível rapidamente redefinir políticas.

Quando as aulas foram interrompidas, as escolas tiveram uma semana para a formação de professores e a elaboração das atividades a serem desenvolvidas com os alunos, ao mesmo tempo em que foi realizado um censo sobre a disponibilidade de equipamentos e internet em casa para que se garantisse acesso a todos.

Após um mês, a tradicional parada de uma semana na primavera, enquanto os estudantes se dedicavam a atividades voltadas ao desenho de projeto de vida, os educadores desenharam um novo planejamento, baseado na experiência inicial e em uma pesquisa realizada com os pais e estudantes. As atividades escolares diárias foram reorganizadas, assim como os critérios de avaliação, que se baseia nas tarefas realizadas em casa, pontuadas ou não, e avaliações criadas pelos professores.

Nem tudo é perfeito: como todas as grandes redes, a de Nova York é heterogênea. A terceira fase de mudanças desse ano letivo que se encerra no fim de junho veio com o reconhecimento de que muitos estudantes não tiveram acesso a computadores e conectividade no tempo adequado e que parte deles pode ter passado pelo trauma de perder entes queridos ou ter tido sua saude mental abalada.

Foram alterados os critérios de avaliação. Nenhum estudante será reprovado e serão criadas três faixas de classificação, de acordo com a situação de cada estudante, antes e depois do ”fechamento” das escolas. São eles "Atende aos Padrões", "Precisa de Melhoria" ou "Curso em Andamento", se for necessário tempo adicional para que o estudante conclua o curso.

A decisão não significa que “os alunos passarão sem saber”. Para os alunos que não progrediram o esperado haverá reforço nas férias de verão e ao longo do próximo ano letivo, que se inicia em setembro.

Os americanos estão no fim de seu ano letivo, ao contrário do Brasil, que está na metade. O que sua experiência nos ensina é que em meio a uma crise nosso foco deve ser o de responder uma questão: para quem a escola pública trabalha?

Na América Latina, as faculdades de Educação do Chile —o melhor aluno da classe— elaboraram uma sugestão bem fundamentada do que poderia ser o retorno pós-pandemia. O documento, que deveria ser lido por todos os gestores educacionais do país, apresenta recomendações em três áreas: (1) bem-estar das comunidades escolares (2) priorização de currículos, ajustes de avaliação e gestão e (3) educação a distância.

Para os educadores chilenos é hora de definir um “currículo para a emergência”, válido por dois anos, considerando os período pós-pandemia. Agora seria a hora de escolher os objetivos de aprendizagem essenciais, aproveitar a flexibilização curricular para promover a educação integral dos estudantes e adotar uma política capaz de responder às necessidades individuais de cada um deles.

Assim como seus colegas novaiorquinos, o foco é naquilo que é possível fazer bem, garantindo aprendizagem de todos e flexibilizando o currículo, ao invés de tentar reconhecer aquilo que não foi aprendido como se tivesse sido ou apostar na ilusão de o que estava planejado para um determinado número de dias letivos seja possível ser igualmente reorganizado em um espaço de tempo dois a três meses menor.

Nesse momento há um esforço enorme de gestores, educadores, alunos e pais nas escolas públicas brasileiras. Há também o receio justificado dos pais de que seus filhos não aprendam o esperado dado o afastamento da escola.

Os estudantes não “perderão o ano” se o caminho escolhido for o de focar nas suas necessidades específicas, manter uma comunicação permanente com os pais, flexibilizar o currículo, adotar ações integradas com a saúde e a assistência social para garantir o bem estar dos mais vulneráveis, e, sobretudo, garantir a autonomia e confiar nos educadores, que conhecem mais do que ninguém quais as necessidades de seus estudantes.

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