Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Alvaro Costa e Silva
Descrição de chapéu

Futebol e ditadura

Os cartolas da CBF se sentem à vontade no país da corrupção

Rogério Caboclo assume a presidência da CBF a partir de abril de 2019
Rogério Caboclo assume a presidência da CBF a partir de abril de 2019 - Leandro Lopes/Divulgação/CBF

Fausto Wolff e Millôr Fernandes assistiram à final da Copa do México, em 1970, entre Brasil e Itália, na toca do inimigo: o apartamento do primeiro, que ficava em Roma. Eles não se importaram porque, como outros intelectuais brasileiros, haviam decidido torcer contra, pois não queriam que a ditadura tirasse proveito da conquista. Mas, logo no primeiro gol canarinho, os dois estavam aos urros, quebrando o silêncio que se abateu sobre a cidade.

A Copa do Mundo, hoje, nem de longe tem essa importância política. Mesmo esportivamente, já viveu dias melhores. Sem vocação para pachecos, alguns torcedores preferem as cores dos seus times de infância ou mesmo as dos milionários clubes da Europa (na verdade, poderosas esquadras internacionais), que só acompanham pela televisão ou internet.

A própria Fifa, escaldada pelos escândalos recentes, anunciou que pretende organizar, a partir de 2021, a cada quatro anos, um Mundial de Clubes, com 24 participantes (sendo 12 deles da Uefa). Se a ideia vingar, pode ser o início do fim da Copa como torneio de maior prestígio no planeta.

Por isso não espanta que ninguém vá às ruas, vestindo camisa verde e amarela, para protestar contra a CBF. Embora haja motivos de sobra: os três últimos presidentes (Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero) foram acusados de corrupção —mas pela Justiça dos Estados Unidos. Só Marin foi preso e condenado. Os outros dois não podem deixar o Brasil. E Del Nero acaba de fazer de um cupincha, Rogério Caboclo, o seu sucessor, em candidatura única, obtendo 135 votos dos 141 possíveis.

Os cartolas da CBF devem se sentir em sintonia com o país em que o líder nas pesquisas para a eleição presidencial está preso e o segundo colocado é réu por injúria e incitação ao estupro. E onde muita gente sente saudade da ditadura, e não de Pelé, Tostão, Gérson...

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.