Lembra quando as livrarias eram diferentes? No Rio dos anos 1980 e 1990, você tinha a certeza de onde ir para encontrar o que desejava. Hoje, diante de prateleiras e gôndolas quase todas iguais e com ofertas cada vez mais desinteressantes, o comum é ouvir a resposta irritante do vendedor: “Não tem, mas podemos encomendar”. Ok, mas para isso não existe a Amazon?
Entrar na Muro de Ipanema, palco de poetas marginais e embrião das atuais Travessas, não era o mesmo que entrar na Leonardo da Vinci original, reino de dona Vanna, que vendia obras em cinco ou mais idiomas. No Leblon tinha a Taurus e a Dantes, que atraíam leitores distintos. Nada era igual à Dazibao (palavra chinesa que significa jornal mural), a mais charmosa da zona sul e a preferida de 10 entre 9 intelectuais —havia aquele que antes de chegar parava no botequim e de lá não saía.
Resistindo a baixar portas, estão a Folha Seca e a Berinjela —aquela especializada em assuntos cariocas, esta em livros usados e raros. São ambientes descontraídos, ambos no Centro da cidade, onde grupos de amigos se reúnem e ainda conseguem conversar, não necessariamente sobre livros.
Atualmente o modelo das megalivrarias enfrenta sua maior crise. A Saraiva, dona de 30% do mercado, suspendeu pagamentos. Assim como a Cultura, segunda maior rede. A Laselva quebrou, e a francesa Fnac saiu do país. O mercado editorial, que tentava respirar depois de três anos de retração, amarga o calote.
É o segundo grande golpe no setor, depois que os programas do Ministério da Educação, o PNLD (voltado para os didáticos) e o PNBE (literatura para bibliotecas escolares), sumiram. Cultura e política no Brasil sempre viveram de costas uma para outra. E pelo nenhum interesse que os presidenciáveis têm demonstrado pelo tema, a incompreensão tende a aumentar.
Se ao menos as pequenas livrarias voltassem...
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