Diante das quatro pistas de intenso movimento da Presidente Vargas, o camarada desiste e entra no bar: “Me dá um combustível aí”. Só depois de virar o copo de pinga numa só talagada e deixar o dinheiro no balcão, ele sai correndo, como se estivesse no encalço de Usain Bolt, e consegue chegar ao outro lado da larga avenida.

Presenciei a prova de velocidade e obstáculos nos meus tempos de foca no jornal O Globo, quando costumava almoçar espaguete à bolonhesa no botequim embaixo do edifício Balança Mas Não Cai. Perguntei ao dono se aquela cena era comum. “Muito. Toda semana morre ao menos um”, respondeu.

O destino do velocista amador era a Central do Brasil, a antiga estação de trem que parece um formigueiro. A Supervia atende seis ramais e pode transportar até 600 mil pessoas em um dia útil.   

Nas ruas próximas, entre a sede da Seseg (Secretaria de Estado de Segurança Pública) e o Palácio Duque de Caxias, quartel do comando do Exército no Rio sob intervenção, desenrola-se um filme de zumbis. São tantos camelôs e ambulantes nas calçadas que não se consegue dar dois passos. 

Há barracas ocupadas por usuários de crack, ao lado de mendigos, menores abandonados, prostitutas e “aviões” que descem do morro da Providência. Os sobrados do Santo Cristo e de trechos da antiga rua Larga estão em ruínas.

Em meio à degradação, passa o moderno VLT, para lembrar que a região fazia parte dos planos de revitalização da zona portuária. Como nada mudou, só piorou, a prefeitura e o governo do estado prometem fazer nova intervenção na Central. 

O projeto prevê a construção de hotel e shopping, além de integração entre os meios de transporte, e deverá ficar pronto em 2020. 

Em se tratando do governador Pezão, que vai deixar o cargo, e do prefeito Crivella, que nada faz, quem há de acreditar?