O escoteiro está com saudade da praça do Russel, na Glória. Representação em bronze de um menino com bandeira e chapéu nas mãos, faz um mês que ele foi serrado na altura dos tornozelos. Sobraram-lhe os sapatos. Foi mais um crime —o sétimo envolvendo estátuas este ano— contra a cidade que abriga a maior coleção de arte pública existente no Brasil.

É possível fazer um roteiro de exposição só no Russel. As fachadas dos prédios do entorno formam um conjunto art decó. Num canto de jardim, ficam os bustos do escultor Lasar Segall e do poeta Alberto de Oliveira. No outro, os do conde Pereira Carneiro, do matemático Teixeira Mendes e do pintor Rodolpho Amoêdo (ao cocuruto deste, algum engraçadinho acrescentou uma casca de coco).

No centro da praça, ergue-se a estátua do padroeiro: base em granito encimada por escultura em argamassa de 13 metros de altura afigurando São Sebastião flechado. Perto dali, um busto de Baden Powell, inventor do escotismo, e, bastante descolado na harmonia do espaço, a monstruosa cabeça em bronze (só o nariz parece pesar uma tonelada) do Memorial Getúlio Vargas.

Indo em direção ao Flamengo, avista-se o monumento em comemoração à abertura dos portos: duas escadarias e duas figuras femininas que simbolizam o comércio e a navegação. Quem sobe a escadaria dá de cara com o esqueleto do Hotel Glória, cortesia do empresário Eike Batista.

Tal qual a dos vândalos, a ação da prefeitura tem sido criminosa. Sob Crivella, a verba destinada à conservação de mais de 2.300 peças foi extinta.

Como é temperamental nossa Justiça: célere em alguns casos, vagarosa em outros. Ação do TSE sobre disparos em redes sociais a favor de Bolsonaro durante a eleição não anda; engatinha, quase parando.