Terreirão do Samba. Eis um exemplo, entre muitos outros, de como se pode estragar, mesmo com a boa intenção do poder público, uma manifestação cultural que nasce espontaneamente.
No fim da década de 1980, o terreno próximo à antiga praça Onze, com mais de 12 mil metros quadrados, estava abandonado. No barro do chão começaram a surgir barracas improvisadas, que serviam cerveja e angu. Ao deixar o Sambódromo, era tudo o que o sambista queria na hora de resenhar os desfiles e esticar numa roda de pagode.
A Riotur abriu o olho e agiu rápido: em 1991, inaugurou o Terreirão, murando o local. A entrada, no início, era de graça; logo, custaria R$ 1 —e subindo o preço a cada Carnaval. Reformado em 2012, ao custo de R$ 15,3 milhões, fixou a capacidade para 16 mil pessoas e passou a funcionar durante o ano inteiro. Foram construídos 35 quiosques, 75 banheiros, novas instalações elétricas e sistema de prevenção contra incêndios. Dois palcos; o principal ganhou uma cobertura em formato de concha e quatro camarins.
Até que, em abril deste ano, uma estudante de 20 anos morreu eletrocutada ao encostar numa chapa metálica. O espaço desde então está fechado, com sinais de abandono, e sem previsão para reabrir. Outra vez acabaram com o samba na praça Onze. Um dia ele volta, quem sabe pisando barro de novo.
Para compensar, serão realizados os Jogos Cariocas de Botequim, com sedes em oito bares da cidade —do Galeto Sat’s, em Copacabana, ao Velho Adonis, em Benfica. Entre as modalidades de disputa estão a porrinha, o totó, a queda de braço, a corrida de bandeja, o pit stop de barril, o arremesso de bolinhas de papel, o chope a metro e o incrível frescobol de amendoim.
Meus tempos de atleta de boteco já passaram. Ficaria satisfeito se encontrasse uma tendinha que servisse um angu à baiana decente, como aqueles do Terreirão primitivo.
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