Todo mundo mente. Mas alguns exageram. Na literatura universal há exemplos notáveis desde Penélope, mulher de Ulisses, que na "Odisseia", de Homero, engana seus pretendentes tecendo de dia e desfazendo de noite uma colcha. Para não morrer, Sherazade vira contadora de histórias.
O barão de Münchhausen também escapou da morte, mas cavalgando balas de canhão. O explorador Fernão Mendes Pinto ficou conhecido como "Fernão Mendes Minto" ou "Fernão, Mentes? Minto!". Tartarin de Tarascon, o burguês arrogante que se imagina herói da pátria, é um personagem que cada vez mais se vê por aí. Sem falar no Pinóquio, com seu nariz crescente.
Entre nós, Macunaíma era mentiroso (além de preguiçoso). Emília não escondia o parentesco com Pinóquio: ambos eram bonecos que ganharam vida. De "Alexandre e Outros Heróis", obra que Graciliano Ramos coletou no folclore alagoano, Chico Anysio tirou o coronel Pantaleão, acrescentando o bordão "É mentira, Terta?".
Desde que assumiu a Presidência, Bolsonaro já fez quase 300 declarações falsas ou distorcidas. Só em agosto, durante a crise ambiental e diplomática em torno da Amazônia, foram mais de 30 falas equivocadas --o que está lhe garantindo um lugar de destaque na galeria da mentira.
A imprensa tem lhe dedicado títulos nunca antes lidos: "Após ofender mulher de Macron, Bolsonaro diz que não a ofendeu" ou "Sem provas, Bolsonaro diz que queimadas podem ter sido causadas por ONGs". Do jeito que a coisa vai, ainda leremos: "Bolsonaro mente que não sente".
Refletindo as últimas pesquisas, o povo não tem perdoado o presidente: um de seus apelidos é Bolsonóquio. Nas lives, ele sempre se faz acompanhar por um general, um ministro, um pastor ou por aquele papagaio de pirata que lhe protege a retaguarda desde a campanha eleitoral. São as novas Tertas.
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