Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva

Ressaca tripla

Por que Mário de Andrade, vivendo no Rio, não escreveu uma linha sobre a turma do Estácio, que formatou o samba como gênero urbano?

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Mário de Andrade vivia seu famoso exílio carioca (que durou de 1938 a 1941). Uma madrugada, na Taberna da Glória, combinou de fazer a seis mãos um livro tendo o samba como tema, do qual ele se encarregaria de um ensaio estético-social, enquanto Vinicius de Moraes comentaria as letras das canções mais significativas e o crítico Lúcio Rangel apresentaria perfis dos compositores e dos intérpretes. Pena que o projeto morreu na tripla ressaca do dia seguinte.

Autor da biografia "Em Busca da Alma Brasileira", Jason Tércio considera uma "balela" a desconfiança segundo a qual Mário não gostava de samba e que, em matéria de música popular, só dava atenção ao folclore. Não tenho como duvidar do biógrafo, cujo livro é excelente e demandou dez anos de investigações.
 

Jason afirma que no acervo do escritor, com mais de 150 discos brasileiros, estavam Donga, Moreira da Silva, Ataulfo Alves, Mário Reis, Aracy da Almeida. Que, em seu apartamento do Catete, ele sempre ouvia "O Que é Que a Baiana Tem?" e tinha o sucesso de Dorival Caymmi na voz de Carmen Miranda como "obra-prima". Que, em outras farras de chope gelado nas calçadas da Taberna, amanhecia o dia cantando "Camisa Listrada", de Assis Valente, e "Pastorinhas", de Noel Rosa e João de Barro.

E que a xará Maria, cozinheira que contratara para o trivial, tinha o hábito de cantar sambas enquanto trabalhava. Sambas de terreiro, desconhecidos. "Nesses momentos, se ele estivesse em casa, parava o que estava fazendo e usava qualquer pretexto para ficar perto dela, prestar atenção nas letras e decorá-las", conta Jason Tércio.

É uma lástima o esquecimento de Mário de Andrade. Estando tão pertinho do lance, não escreveu uma linha sobre a turma do Estácio, a geração de jovens negros, desempregados ou sem ocupação definida, que formatou o samba como gênero urbano, originando a mais influente música do Brasil no século 20. 

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