Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva

Num túnel do tempo para Havana

A turma que hoje odeia Cuba não deve saber quem foi Benny Moré ou Bola de Nieve

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Vai pra Cuba! Quando ouço ou leio nas redes sociais a frase, que não esconde o tom de xingamento, logo me lembro de G. Cabrera Infante (1929-2005), o escritor que passou quase 40 anos no exílio, em Londres, e de lá recriou a memória de sua cidade. Oficialmente fundada em 16 de novembro de 1519, La Habana está fazendo 500 anos. O governo do Brasil mandou um presente "muy amigo": obedecendo aos EUA, rompeu a tradição e deixou de condenar o embargo econômico ao pequeno país caribenho.

Quando lhe perguntaram se voltaria para Havana depois da morte de Fidel Castro, Cabrera Infante respondeu: "Claro. Mas não no primeiro avião". Já se acostumara a viver longe, ao lado da mulher, a atriz Miriam Gómez ("minha Cuba portátil"), recriando em seus romances (o maior deles, "Três Tristes Tigres") a cidade perdida.

A Havana de G. Cain, o heterônimo com que assinava suas críticas de cinema, só podia ser a dos anos 1950, pré-revolucionários: sensual, alegre, boêmia, mas também violenta, degradante, injusta. Mais que recordada, talvez fosse uma cidade feita de saudades, sonhos e palavras, que só existisse na cabeça do escritor proibido de voltar. Pouco importa, pois é ela que ficará para os leitores como única.

A música, esta sim, era real. Numa mesma noite, era possível ouvir a Anacaona (orquestra composta só por mulheres); o piano de Bola de Nieve; dançar com Benny Moré ou a Sonora Matancera; aplacar a dor de cotovelo ao som dos boleros de Olga Guillot, Vicentico Valdés e da enorme Fredesvinda García, a Freddy; curtir o feeling de José Antonio Mendez; esbaldar-se com o jazz de Cachao, Bebo Valdés e El Negro Vivar.

O cantor cubano Benny Moré, em 1957 - AFP

E quem é aquele ali na mesa ao lado? Marlon Brando, implorando uma chance para tocar bongô.
A turma do ódio faz ideia de que, um dia, existiu uma Cuba assim? Se quiserem me mandar para lá num túnel do tempo, vou correndo.

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