Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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O bota-dentro de Eduardo Paes

Com a proposta de reviver o Centro, lucra-se na Zona Sul

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O bota-dentro nem começou e já é uma decepção. Anunciado como antítese do bota-abaixo de Pereira Passos —processo de reformas que redesenhou o Centro do Rio no início do século 20, expulsando a população de baixa renda—, o projeto Reviver Centro, do prefeito Eduardo Paes, é uma contradição: desconhece a importância do patrimônio histórico na região que mais sofreu os efeitos da pandemia e não dá sinais de recuperação.

O entorno da praça Tiradentes, antigo largo do Rocio, dá medo. Medo de que os prédios desabem na cabeça de quem passa por ali. De um lado, nem se reconhece o estilo neoclássico do antigo Hotel Paris, com arbustos crescendo na fachada. Sua última ocupação foi um bordel. Do outro lado, só restou mesmo a fachada de um sobrado utilizado para festas clandestinas com o sugestivo nome de Espaço Ruínas.

Fachada do antigo Hotel Paris, na praça Tiradentes, no Centro do Rio: estilo neoclássico quase irreconhecível
Antigo Hotel Paris, na praça Tiradentes, no Centro do Rio: estilo neoclássico quase irreconhecível - Alvaro Costa e Silva

Segundo as contas da própria prefeitura, no bairro há quase 600 imóveis desocupados. A maioria deles apresenta estado de conservação “ruim” ou “em ruína”. Daí que não se entende a pouca importância dada à preservação desses prédios no novo programa urbanístico —o qual mais parece um instrumento de especulação financeira.

Além de estímulos fiscais e regras flexíveis, o ponto mais controverso do plano – cuja finalidade é atrair moradores para a região – é uma contrapartida que caiu do céu: em troca de construções e retrofits, o mercado imobiliário terá direito a uma espécie de bônus, calculado em metros quadrados, para construir acima do gabarito em Copacabana e Ipanema. Com a proposta meia-boca de reviver o Centro, lucra-se na zona sul.

Não é de hoje que o urbanismo do Rio anda na contramão do de Nova York e Paris, por exemplo, que adotam medidas para reduzir a circulação de carros e liberar espaço para pedestres e ciclistas. Aqui os governantes seguem incentivando o modelo miliciano da construção e demolição indiscriminada.

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