Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Alvaro Costa e Silva

Jogo de botões sobre a calçada

Craques de galalite enfrentam as desgraças do paí

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O passe de longa distância fez com que a bolinha de feltro quase tocasse nos adversários. Ficou na mira do atacante de bainha alta e base cavada. Era uma jogada arriscada, mas veio a ordem: "Prepara!". Com a ação da palheta, o botão deslizou no piso poroso e mandou, com efeito, o chute que estufou o filó. Os beques gigantes e o goleiro de caixa de fósforos com chumbo fundido por dentro nada puderam fazer. Golaço!

Botões de campeonatos oficiais do escritor Marcelo Moutinho
Botões de campeonatos oficiais do escritor Marcelo Moutinho - Marcelo Moutinho

Diversão de criança numa hora dessas, com a pandemia ainda não controlada, irregularidades na compra das vacinas e Bolsonaro fingindo-se de morto para enganar o coveiro? Pois dou a dica para quem não aguenta mais tantas desgraças: aliviar a tensão com as coisas boas da vida. Ter um reencontro com a infância guardada numa caixa de charuto no fundo do armário. Dar banho e passar talco nos jogadores de galalite, madrepérola, tampa de relógio e casca de coco. Numa tarde de folga, mandar o time a campo.

A origem do jogo é incerta. Teria sido "inventado" no Rio, no fim dos anos 1920, quando o publicitário Geraldo Décourt retirou os botões da camisa, os dispôs sobre uma placa de celotex, encenou uma partida de futebol e fez as regras. Mas me pergunto como foi possível a Ataulfo Alves, nascido em 1909, divertir-se jogando botão nas calçadas da cidadezinha de Miraí (MG), como ele conta no samba "Meus Tempos de Criança".

Time de botão da modalidade disco do escritor Marcelo Moutinho
Time de botão da modalidade disco do escritor Marcelo Moutinho - Marcelo Moutinho

O tempo sofisticou a brincadeira. Qualquer dia vira esporte olímpico. Com árbitro, súmula e uniforme, há campeonatos oficiais disputados em quatro modalidades. Na regra disco, cada jogador só pode dar um toque na bola de cada vez: "De tão estratégica, é quase uma partida de xadrez", garante o escritor Marcelo Moutinho, botonista apaixonado.

Faço mais o estilo Ataulfo. É um jogo que nos transforma em criança de novo. E sabe por que insistimos em preservar os craques de coco? Na esperança de que possamos um dia brincar com os filhos.

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