Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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Descrição de chapéu

A linguagem do golpe

Jogar fora das quatro linhas, como quer Bolsonaro, é não aceitar o resultado das urnas

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Para compor sua linguagem estropiada, não há como Bolsonaro dispensar o uso de muletas. Qualquer assunto é uma "cuestão", as respostas sempre começam com "no tocante a isso daí", além do já personalizado arremate "talquei". Uma das expressões, por revelar a crueldade de quem a diz, foge à pobreza de repertório: "ponta da praia" era uma gíria de militares no tempo da ditadura para se referir a uma base na Restinga da Marambaia, no Rio de Janeiro, onde presos políticos foram executados.

O presidente Jair Bolsonaro, em solenidade no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 31.mar.22/Folhapress


Para atacar o Judiciário, a preferida é "dentro das quatro linhas", velho lugar-comum da imprensa esportiva. No bolsonarês, ela significa o contrário e identifica uma ameaça: rebelar-se e não aceitar o resultado das urnas. "Não serão dois ou três que decidirão como serão contados esses votos", disse Bolsonaro, num recado a Luís Roberto Barroso, ex-presidente do TSE; Edson Fachin, o atual; e Alexandre de Moraes, que assume o tribunal em agosto.


Jogar fora das quatro linhas é dar um golpe contra as instituições, caso ele não seja reeleito. Bolsonaro tem descumprido todas as regras do jogo –sem ser incomodado ou punido. Pelo contrário: tem apoio do centrão (cujos membros parecem não se importar com o risco de o Congresso fechar num futuro próximo) e, sobretudo, das camadas militares e empresariais. Só falta marcar o gol de mão, estando em impedimento, depois do tempo regulamentar esgotado.


Os adversários são obrigados a respeitar a lei eleitoral; ele não. Depois de promover com dinheiro público motociatas Brasil afora e espalhar nas redes mentiras a seu favor, transforma qualquer evento da Presidência da República e até cultos evangélicos em comícios antecipados.
Na batalha da desinformação, ainda age um elemento extra: o general golpista que se finge democrata filiando-se a partidos políticos e lançando-se candidato às eleições ao mesmo tempo em que elogia o Golpe de 64.

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